AUGUSTO CAMPOS | LUANDA: Depois dos resultados desastrosos dos socialistas nas eleições
municipais francesas, no domingo passado, o Presidente François Hollande
apressou-se a tentar salvar o que restou do seu partido e do seu
Governo. À nomeação de Manuel Valls como primeiro-ministro, após a
demissão de Jean Marc-Ayrault, seguiu-se a escolha de um “Governo de
combate”, que é, na verdade, um executivo de compromisso entre as
tendências mais à direita e mais à esquerda do PS francês.
Numa reunião de duas horas, na manhã desta
quarta-feira, Hollande e Valls concluíram a lista dos novos ministros,
que foi depois apresentada publicamente pelo chefe de gabinete do
Presidente francês, Pierre René Lemas.
Confrontados com a recusa
de última hora do Europa Ecologia/Os Verdes em manter os seus dois
ministros do anterior Governo – em protesto contra a nomeação de Manuel
Valls, o “socialista de direita”, para o cargo de primeiro-ministro –,
os dois responsáveis encontraram uma solução de compromisso, mas que,
talvez por isso mesmo, pode fazer “faísca”, como escreve o jornal Le Figaro.
A
saída de Pierre Moscovici do Ministério da Economia e Finanças resultou
na divisão da pasta – a mais importante, a das Finanças, foi para
Michel Sapin, um velho amigo de Hollande e conhecido nos corredores de
Bruxelas, onde terá a responsabilidade de afastar as desconfianças da
Alemanha sobre o futuro do país. Outra tarefa difícil aguarda-o em casa,
já que vai trabalhar de perto com Arnaud Montebourg, o novo ministro da
Economia, conhecido pelas suas posições anti-austeridade e
antiglobalização, e uma espécie de contrapeso da linha mais à direita do
primeiro-ministro.
Apesar de a separação entre as Finanças e a
Economia estar longe de ser exemplo único na Europa, o caso francês
poderá tornar-se mais complicado de gerir, devido à personalidade de
Montebourg, conhecido pela sua defesa intransigente do proteccionismo
económico.
Na terça-feira, numa entrevista à rádio France Inter,
deixou mais uma vez bem vincada a sua divergência de opinião sobre as
medidas mais indicadas para combater a crise económica e financeira na
Europa: “Acho que temos uma hipótese de ter sucesso empurrando a Europa
para uma nova direcção, porque agora é a Europa que nos empurra para a
austeridade. Precisamos de pragmatismo e de mudar as ideias da Comissão
[Europeia].”
Já Michel Sapin terá de convencer os seus parceiros
europeus a renegociarem a linha vermelha do défice para o país, usando
como argumentos as reduções de impostos e outras políticas que têm como
objectivo relançar a economia francesa. É uma tarefa difícil, já que a
Comissão Europeia aceitou adiar para 2015 o cumprimento da meta do
défice, e não há indicações de que aceite facilmente um novo adiamento. A
experiência europeia de Sapin poderá revelar-se essencial – era ele
quem liderava a pasta das Finanças em 1992, no Governo de Pierre
Bérégovoy, quando os franceses aprovaram em referendo, por uma curta
margem, o Tratado de Maastricht, que viria a abrir as portas à criação
da moeda única.
Michel Sapin é também uma das muitas figuras que
transitam do Governo de Jean Marc-Ayrauld, onde desempenhou as funções
de ministro do Emprego desde Maio de 2012.
O regresso de Royal, 22 anos depois
Num
executivo formado por apenas 16 ministros (contra os 38 do anterior),
só há duas caras novas, mas uma delas já captou a maior parte da atenção
dos jornais franceses, apesar de não ser propriamente uma surpresa.
Ségolène
Royal, antiga companheira do Presidente François Hollande, com quem
teve quatro filhos, obteve a sua “vingança”, escreve o Le Monde. “Ségolène Royal, ministra de François Hollande. Como não esboçar um sorriso?”, é a pergunta retórica do jornal francês.
A relação de quase três décadas entre Royal e Hollande chegou ao fim em 2007, quando os media franceses
expuseram uma relação entre o actual Presidente e a jornalista Valerie
Trierweiler. Os problemas sentimentais do casal foram transportados para
a arena política – em 2007, Ségolène Royal concorreu às eleições
presidenciais, levando Hollande a adiar as suas próprias aspirações ao
cargo; e, em 2011, concorreu (e perdeu) nas primárias do Partido
Socialista contra François Hollande. Também em 2007, quando o PS
liderado por Hollande perdeu as eleições legislativas para a UMP de
François Fillon, o recém-nomeado primeiro-ministro, Manuel Valls,
criticou de forma muito dura as consequências da relação sentimental
para as ambições políticas dos socialistas: “Estou farto da vida
política, especialmente da do meu próprio partido, que está a ser
conduzida pela relação de um casal.”