sábado, 5 de abril de 2014

NOVO GOVERNO FRANCÊS


AUGUSTO CAMPOS | LUANDA: Depois dos resultados desastrosos dos socialistas nas eleições municipais francesas, no domingo passado, o Presidente François Hollande apressou-se a tentar salvar o que restou do seu partido e do seu Governo. À nomeação de Manuel Valls como primeiro-ministro, após a demissão de Jean Marc-Ayrault, seguiu-se a escolha de um “Governo de combate”, que é, na verdade, um executivo de compromisso entre as tendências mais à direita e mais à esquerda do PS francês.
Numa reunião de duas horas, na manhã desta quarta-feira, Hollande e Valls concluíram a lista dos novos ministros, que foi depois apresentada publicamente pelo chefe de gabinete do Presidente francês, Pierre René Lemas.
Confrontados com a recusa de última hora do Europa Ecologia/Os Verdes em manter os seus dois ministros do anterior Governo – em protesto contra a nomeação de Manuel Valls, o “socialista de direita”, para o cargo de primeiro-ministro –, os dois responsáveis encontraram uma solução de compromisso, mas que, talvez por isso mesmo, pode fazer “faísca”, como escreve o jornal Le Figaro.
A saída de Pierre Moscovici do Ministério da Economia e Finanças resultou na divisão da pasta – a mais importante, a das Finanças, foi para Michel Sapin, um velho amigo de Hollande e conhecido nos corredores de Bruxelas, onde terá a responsabilidade de afastar as desconfianças da Alemanha sobre o futuro do país. Outra tarefa difícil aguarda-o em casa, já que vai trabalhar de perto com Arnaud Montebourg, o novo ministro da Economia, conhecido pelas suas posições anti-austeridade e antiglobalização, e uma espécie de contrapeso da linha mais à direita do primeiro-ministro.
Apesar de a separação entre as Finanças e a Economia estar longe de ser exemplo único na Europa, o caso francês poderá tornar-se mais complicado de gerir, devido à personalidade de Montebourg, conhecido pela sua defesa intransigente do proteccionismo económico.
Na terça-feira, numa entrevista à rádio France Inter, deixou mais uma vez bem vincada a sua divergência de opinião sobre as medidas mais indicadas para combater a crise económica e financeira na Europa: “Acho que temos uma hipótese de ter sucesso empurrando a Europa para uma nova direcção, porque agora é a Europa que nos empurra para a austeridade. Precisamos de pragmatismo e de mudar as ideias da Comissão [Europeia].”
Já Michel Sapin terá de convencer os seus parceiros europeus a renegociarem a linha vermelha do défice para o país, usando como argumentos as reduções de impostos e outras políticas que têm como objectivo relançar a economia francesa. É uma tarefa difícil, já que a Comissão Europeia aceitou adiar para 2015 o cumprimento da meta do défice, e não há indicações de que aceite facilmente um novo adiamento. A experiência europeia de Sapin poderá revelar-se essencial – era ele quem liderava a pasta das Finanças em 1992, no Governo de Pierre Bérégovoy, quando os franceses aprovaram em referendo, por uma curta margem, o Tratado de Maastricht, que viria a abrir as portas à criação da moeda única.
Michel Sapin é também uma das muitas figuras que transitam do Governo de Jean Marc-Ayrauld, onde desempenhou as funções de ministro do Emprego desde Maio de 2012.

O regresso de Royal, 22 anos depois

Num executivo formado por apenas 16 ministros (contra os 38 do anterior), só há duas caras novas, mas uma delas já captou a maior parte da atenção dos jornais franceses, apesar de não ser propriamente uma surpresa.
Ségolène Royal, antiga companheira do Presidente François Hollande, com quem teve quatro filhos, obteve a sua “vingança”, escreve o Le Monde. “Ségolène Royal, ministra de François Hollande. Como não esboçar um sorriso?”, é a pergunta retórica do jornal francês.
A relação de quase três décadas entre Royal e Hollande chegou ao fim em 2007, quando os media franceses expuseram uma relação entre o actual Presidente e a jornalista Valerie Trierweiler. Os problemas sentimentais do casal foram transportados para a arena política – em 2007, Ségolène Royal concorreu às eleições presidenciais, levando Hollande a adiar as suas próprias aspirações ao cargo; e, em 2011, concorreu (e perdeu) nas primárias do Partido Socialista contra François Hollande. Também em 2007, quando o PS liderado por Hollande perdeu as eleições legislativas para a UMP de François Fillon, o recém-nomeado primeiro-ministro, Manuel Valls, criticou de forma muito dura as consequências da relação sentimental para as ambições políticas dos socialistas: “Estou farto da vida política, especialmente da do meu próprio partido, que está a ser conduzida pela relação de um casal.”

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