AUGUSTO CAMPOS | LUANDA | 25 Outubro 2014: O escritor e produtor de moda Hadjalmar El Vaim foi alvo de uma homenagem na cidade de Benguela, numa iniciativa do humorista Bebao Cambaio. A gala de homenagem, que reuniu várias personalidades ligadas a moda e da música, assim como personalidades das mais diferentes áreas de Benguela, realizou-se no hotel Vunge Kita. A organização justificou a distinção à Hadjalmar El Vaim pelo facto deste ser um dos precursores na área da moda e pelo seu inegável contributo para o desenvolvimento da moda e cultura em Angola. Visivelmente emocionado com a iniciativa, Hadjalmar El Vaim agradeceu a organização e a província de Benguela, sua terra natal, pela distinção. “É uma felicidade muito grande saber que o povo, as pessoas de Benguela acompanham aquilo que faço com carinho e amor. Este será mais um incentivo para continuar a trabalhar e querer, a cada dia, dar mais de mim em tudo aquilo que faço para de alguma forma contribuir para o desenvolvimento e crescimento desta nação, que tanto nos orgulha”, disse em gesto de agradecimento. A Hadja Models é uma das principais agências de moda em Angola. É a detentora de uma infinidade de modelos, que se têm destacdo em diferentes desfiles de moda, a nível interno e mundial. Gente louva a iniciativa do humorista Bebao Cambaio.
Entrevista com HADJAMAR EL VAIM
Licenciado em Política pela universidade de Leeds, o multifacetado Hadjalmar El Vaim de apenas 25 anos, trás na sua já vasta bagagem um currículo exemplar de Modelo, Produtor de moda e eventos, repórter, locutor e escritor.
Nesta pequena entrevista à Sapo, o menino de ouro conta-nos parte significante das suas conquistas, alegrias e planos de vida. E entrando na sua vida e carreira profissional, as perguntas que não se quiseram calar começaram a aparecer:
Quando e onde foi a sua primeira aparição no jet set Angolano (...)?
"O meu pai foi um dos jogadores de futebol mais conhecidos em Angola de todos os tempos. Por essa razão sempre fiz parte do jet set angolano como o “filho do Jesus”. Mas no que toca à minha afirmação pessoal e profissional, penso que as pessoas começaram a conhecer o “Hadja” quando integrei pela primeira vez a selecção nacional de Andebol, na categoria seniores masculinos e fomos disputar o africano de 2004 no Benin. Fui capitão da equipa de Andebol do primeiro de Agosto e sub-capitão da selecção de Juniores. Depois disso fundei o Projecto Esperança, um projecto solidário que desenvolvo em prol das crianças desfavorecidas e que tem já 3 anos de existência ou talvez tenha sido quando desfilei pela primeira vez em Angola no Huíla Fashion há dois anos."
E por falar em desfile e tapetes vermelhos...
Como foi participar no Mister Angola e de que forma essa experiência mudou a sua vida?
"Sempre gostei muito de desfilar, é a minha vida, aliás faço-o a 11 anos. Fui considerado o terceiro homem mais bonito do país (risos). Foi uma experiência diferente! Fiquei com o terceiro lugar, no que toca à cultura geral, liderei todas as avaliações, ganhei o título de mister popularidade ou seja liderei as votações dos internautas. Conheci pessoas que tornaram-se amigos e até hoje fazem parte da minha vida, como os representantes do Huambo no referido concurso. Não me posso queixar… Foi uma experiência!"
Acha que lhe abriu portas para outro tipo de mercado sem ser o da moda?
"De maneira nenhuma. Não foi definitivamente o meu caso. Tudo o que consegui na foi o resultado de vários anos de sacrifício, muito empenho e determinação que tiveram um bónus de uma experiencia além-fronteiras, nomeadamente Portugal e Inglaterra, que fizeram toda a diferença e pesaram para que eu pudesse chegar até onde cheguei."
E em relação ao pronto-a-vestir, sabemos que o prestigiado modelo é fã incondicional de moda, logo:
De onde vem essa paixão?
"É uma paixão antiga mas que nunca tinha sido prioridade na minha vida. Sempre tive a minha educação e os meus estudos em primeiro lugar. Fui sempre um aluno de quadro de honra, o orgulho dos pais, um dos mais inteligentes da escola, muito envergonhado e retraído. Quando comecei a fazer desporto comecei a soltar-me um bocado mais e toda a gente elogiava muito a minha forma física por ser muito alto e corpulento em relação às outras pessoas da minha idade. Sempre passei por mais velho do que realmente era. E, um dia, surgiu um convite, aceitei e ficou “aquele bichinho”. Com o passar do tempo foram aparecendo mais trabalhos, fui-me entregando mais até que, quando me apercebi, já era um modelo agenciado e com um ritmo frenético de trabalho e popularidade. (Risos)"
Sendo assim qual é a sua sincera opinião sobre a moda Angolana?
"Que temos muito por caminhar mas que estamos no bom caminho. Temos estado a dar passos significativos. Eu sou, por natureza, uma pessoa muito optimista. Portanto, vejo progresso, vejo pessoas empenhadas em melhorias, muitos modelos talentosos, estilistas cada vez mais criativos e a apostarem na internacionalização e na excelência das suas criações. Cada vez mais vejo profissionais que entendem da área e que demonstram muita força de vontade em contribuir para o desenvolvimento, criando mais e melhores eventos a cada ano que passa, não só em Luanda mas também noutros pontos do país. Penso ainda que Angola tem estado a melhorar em termos de originalidade, a cultura muito tem feito para resgatar a nossa verdadeira identidade e moda é cultura. É difícil fazer-se moda, isto falando dos criadores, os designers, é difícil criar quando nem sabemos quem somos e penso que hoje temos uma ideia mais clara de quem somos realmente, temos uma identidade mais firmada com um toque muito próprio que é o resultado da globalização, mas vejo isso de uma forma positiva. E acredito que Angola terá um futuro muito risonho no que concerne à moda nos próximos anos se deixarmos trabalhar quem realmente entende da área e acabarmos com certas rixas pessoais que, em nada, ajudam na melhoria deste sector que tem vindo a ganhar o seu espaço no universo cultural angolano."
Entre os muitos conceituados criadores de moda Angolano, tem algum que goste em particular?
"Gosto de alguns do Avelino Nascimento pela originalidade das criações, da Lizete Pote pela sensualidade que é uma característica dos seus modelos, do Marius por ser um dos poucos que faz alta-costura entre os estilistas angolanos. Gosto do Hindical Barbosa pela ousadia de ter criado uma linha completamente nova de modelos masculinos que combina glamour e irreverência, do Filsama porque espelha as raízes da região sul do país nas suas criações de uma forma muito própria. Gosto da Nadir Tati, Geraldo Fashion… Enfim, gosto de muitos embora tenha a consciência que todos precisem de melhorar algumas debilidades que as suas colecções ainda apresentam mas que deve-se, em grande parte, à falta de recursos no que toca à indústria têxtil no nosso país."
Mas a moda não é a única paixão do nosso Jovem promissor, a sua paixão pela escrita desde muito cedo o levou a bom porto.
Sabemos que já trabalhou como repórter para algumas revistas de peso no mercado, de onde vem a sua paixão pela escrita?
É a mais antiga de todas as minhas paixões. Aos 7 anos escrevi o meu primeiro livro. O título era "o reino dos Hadjinkas". (Risos)
Sempre gostei imenso de escrever e, por coincidência, sempre fui o melhor aluno da minha turma em língua portuguesa tanto em Angola como em Portugal. A minha paixão pela língua portuguesa é e sempre foi tão grande que penso que foi isso que motivou e resultou na enorme paixão pela escrita.
E do empenho e preserverança vem a conquista!
Sabemos que para além de modelo e repórter, foi convidado para fazer parte do elenco da Globo.Como se sente em trabalhar para uma das maiores cadeias televisivas?
"É um sonho! Estou a viver um sonho! (Risos) Essa é a melhor maneira de descrever este momento. A sensação e a vida que estou a viver agora é algo que a maior parte dos jovens apenas sonha e ainda estou meio confuso com tudo o que me tem acontecido. Mas tem sido uma experiência fantástica e diferente de tudo que já fiz até agora. Agradeço todos os dias pela oportunidade. Tenho um ambiente de trabalho fenomenal, o que tem sido uma experiência nova também desde que cheguei à Angola. Toda a gente tem espírito de equipa e todos trabalham para o mesmo fim, cada um na sua área mas dispostos a cobrir os furos uns dos outros para que o produto final seja o melhor que pode ser apresentado ao público. Sinto-me rodeado de pessoas muito capazes, uma equipa de profissionais que primam pela excelência do seu trabalho a tempo inteiro. Pessoas que apesar de competentes são muito humildes, dedicadas e com uma experiência enorme de vários anos de televisão e não só de televisão mas de "globo" que a todo o tempo contribuem para o meu crescimento. É um mundo novo para mim e puxam por mim, motivam-me, fazem-me acreditar em qualidades que, por vezes, nem eu sei que tenho. (Risos) A melhor maneira de descrever isto é que “me sinto como se estivesse numa montanha russa”. Estou a viajar em direcção ao crescimento profissional a um ritmo alucinante! Tenho aprendido muito dia após dia e o principal sentimento é, seguramente, esta sensação de vitória, de aprendizagem, de valorização que acabam por surtir efeito até na minha própria auto-estima. (Risos)"
Onde podemos procurar o Hadjalmar na programação da Globo?
"Sou repórter do programa Revista África, apresentado por Lesliana Pereira, ex Miss-Angola, que vai ao ar todos os sábados às 17h30."
Com tanta responsabilidade em mãos, como concilia a sua vida particular com a profissional, tem alguém especial?
"Não as distingo, vivo para o trabalho que é, neste momento, a minha prioridade. Neste momento não existe ninguém especial na minha vida, continuo à espera da tal. (Risos) Sou uma pessoa muito reservada, sensível e que cultiva uma série de valores que não me permite que me envolva com pessoas só por desporto, então até aparecer a tal pessoa vou manter-me sozinho à espera dela. Mas tenho a pouca sorte de viver amores não correspondidos… (Risos)"
Quem é o Hadjalmar El Vaim por detrás das luzes da ribalta?
"É um rapaz muito meigo, humilde, educado, sensível, respeitador, com um espírito de sacrifício muito grande, que corre atrás dos seus sonhos e luta pelas coisas em que acredita. Extremamente perfeccionista no que toca ao seu trabalho. Um rapaz que detesta mentiras, atrasos, pessoas sem sentido de humor e preconceitos".
Qual é o seu maior sonho e o seu pior pesadelo?
"O meu maior sonho é encontrar a tal pessoa especial que vai dar sentido à minha vida. Crescer ainda mais a nível profissional porque o limite é o céu e que o meu crescimento profissional possa ser usado de forma a dar o meu contributo à sociedade e em especial às camadas mais desfavorecidas. O meu pior pesadelo é a solidão… Não gostava de me tornar numa pessoa solitária".
Planos para o futuro?
"Tenho um por segundo… Quero ser e fazer tantas coisas! (Risos) Mas, a verdade é que, tudo que tenho projectado tem vindo a ganhar outro rumo na prática. Um exemplo é a globo nunca planeei fazer televisão, aconteceu e está a ser estupendo. Então, agora, adoptei a táctica de deixar as coisas acontecerem naturalmente".
Se o Génio da Lâmpada Mágica existisse e lhe pudesse conceder um desejo, o que pediria?
"Só pode ser um?! (Risos) Acho que pedia que o meu livro fosse publicado. Tenho um livro que foi escrito com toda a minha alma e que acredito que tenha um conteúdo fantástico e super interessante para os leitores. Seria uma grande alegria puder dividir com outras pessoas um pedaço de mim, uma parte da minha alma e da maneira como vejo o mundo".
E foi com o profundo desejo de concretizar os seus sonhos que nos despedimos de Hadjalmar El Vaim
SAPO / JA
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