O plano de reestruturação da petrolífera angolana está a avançar e Isabel dos Santos revela-o ao Financial Times. A energética vai ser dividida.
A Sonangol vai ser dividida em três unidades - exploração e produção, logística e uma divisão para as concessões a empresas internacionais. Todas as participações não-petrolíferas - que integram mais de 90 companhias incluindo um clube de futebol - serão colocadas num fundo de investimento, sendo que algumas serão para vender.
Esta estratégia de reestruturação foi revelada por Isabel dos Santos, presidente da Sonangol desde Junho, ao Financial Times a quem disse que a Sonangol "perdeu o foco do negócio 'core' do petróleo", pelo que "provavelmente não estávamos a controlar os nossos activos - os nossos activos petrolíferos - como deveríamos, e pior do que isso faltou visão estratégica".
Já não é a primeira vez que a gestão anterior da Sonangol foi criticada. Já em Novembro, num comunicado divulgado pela Lusa, a administração da Sonangol responsabilizava a anterior gestão: "como todos têm consciência, a conjuntura internacional e a prolongada baixa do preço de petróleo, conjugada com uma política inadequada de investimentos da Sonangol nos últimos anos resultou numa reduzida disponibilidade financeira", dizia-se.
A administração da Sonangol era liderada desde 2012 - e até à nomeação de Isabel dos Santos - por Francisco de Lemos José Maria, que por sua vez sucedeu a Manuel Vicente, eleito então vice-presidente da República.
Isabel dos Santos foi nomeada pelo pai, José Eduardo dos Santos, para a Sonangol em Junho, tendo já referido que a empresa iria avançar com um processo de reestruturação, incluindo na componente financeira, já que tem dívida para amortizar ainda este ano. São 1,6 mil milhões de dólares para pagar até final do ano, estando a Sonangol, para isso, segundo o FT, em negociações com bancos internacionais.
A esses bancos a gestão da Sonangol avançou com uma projecção de produção de petróleo que, sem investimento fresco, passará de 1,7 milhões de barris por dia este ano para 1,5 milhões em 2022. E a esse nível a Sonangol, acrescenta o jornal britânico, não conseguiria debitar petróleo suficiente para fazer face às suas dívidas a preços correntes.
Mas desde que tomou conta da empresa, a companhia já reduziu a sua dívida para 9,8 mil milhões de dólares, face aos 13,6 mil milhões que tinha no final de 2015. E o objectivo é reduzir mais no próximo ano para valores próximos dos oito mil milhões de dólares. Também quer reduzir 240 milhões nos custos e os investimentos serão cortados para valores próximos dos 3 mil milhões de dólares, face aos 4,6 mil milhões em 2015. "Penso que em 2021, 2022 a companhia estará, definitivamente, numa situação diferente da que está hoje".
Isabel dos Santos tem traçado o seu objectivo: "A minha visão é tornar a Sonangol muito rentável", dizendo que havia encargos que a Sonangol no passado tinha e que não cabem à petrolífera. Dá o exemplo do financiamento de habitação de baixo custo que deverá voltar à alçada do Governo, declarou.
Pelo exercício deste ano, a empresa não deverá distribuir dividendos, conforme já tinha sido referido.Em 2013 a Sonangol teve lucros de 3,1 mil milhões de dólares, que caíram para 400 milhões em 2015.