AUGUSTO CAMPOS | LUANDA, 23 Junho 2015:
DR/ Club-K
Os detidos seriam jovens activistas notabilizados por realizarem protestos contra abusos de direitos humanos, em Luanda.
Luaty Beirao, músico e activista seria
detido por volta das 17 horas em sua casa, em Luanda e levado por três
agentes do SINSE e 8 agentes da Policia de Investigação Nacional que se
fizeram transportar numa carrinha land-cruizer sem matricula. Os agentes
confiscaram também o seu computador e telefone.
O procedimento foi extensivo para outros
jovens como Nito Alves, Nelson Dibango, Mbanza Hanza, Nicolas de
Carvalho, Albano Bingo e etc, que foram também detidos em suas
residências e viram os seus computadores a serem confiscados, como
aconteceu com Nelson Dibango, detido em casa do seu pai.
O SINSE apresentou como prova dos
preparativos do suposto “golpe de Estado”, material de uma palestra que
os jovens iriam realizar neste sábado (20) no bairro Nelito Soares, ao
município do Rangel subordinada ao tema “filosofia ideológica da
revolução pacifica vs como derrubar um ditador”. A palestra, que fora
antecedida por outras, tem como orador o académico e jornalista
Domingos da Cruz, que foi igualmente preso neste domingo (21) no
interior do país.
Sedrick de Carvalho, um jornalista que
fazia cobertura da palestra acabou também sendo detido pela policia de
investigação. Ao total, foram presos dois grupos: Um que se preparavam
para assistir a palestra e outro integrado por Luaty Beirão, Manuel Nito
Alvés e Nelso dos Santos que foram detidos em suas residências sem que
estivessem envolvidos com a realização da palestra, que na versão do
aparelho de Segurança, transmitida a Presidência da República se tratou
de preparativos para “Golpe de Estado.”
Logo a seguir as detenções, o
director-general do Serviço de Investigação Criminal (SIC), Eugénio
Pedro Alexandre foi instruído a emitir um comunicado de imprensa
justificando que os referidos cidadãos foram presos porque “se
preparavam para realizar actos tendentes a alterar a ordem e a segurança
pública do país”. No comunicado daquele responsável do órgão que
sucedeu a DNIC alega que “durante a operação foram aprendidas uma série
de provas”.
Segundo informações, as autoridades
policiais irão apresentar nos próximos dias os fascículos e livros
(sobre derrube de ditadores) que serviriam de material de apoio da
palestra como prova dos preparativos do suposto “golpe de Estado”. Ao
mesmo tempo ocorrerão mais detenções de activistas em Luanda.
As detenções ocorridas em Luanda e a
tese do suposto “golpe de Estado” estão a ser acompanhadas por
antipatias por parte de uma corrente interna do SINSE que suspeita que
alguns dos seus superiores estejam usar tais pretextos para obtenção de
dividendos económicos pessoais, uma vez que tem noção que o Presidente
José Eduardo dos Santos é bastante sensível ao tema de “golpe de Estado”
As suspeitas que recaem sobre os
responsáveis do SINSE de que estariam a tirar dividendos económicos com
estas operações de abortagem de suposto “golpe de Estado” é baseada no
antecente de há cerca de quatro anos, em que os chefes da segurança de
Estado teriam “ficado” com 3 milhões de dólares - solicitados ao
Presidente da República - para abortagem de uma suposta incursão da
UNITA.
O SINSE teria informado ao Presidente da
República, que o líder da UNITA, Isaías Samakuva iria sair com uma
caravana de militantes a partir do Município do Cacuaco rumo ao
interior a fim de criar acções de instabilidade no país. Para o efeito, o
SINSE solicitou ao PR, a disponibilidade de verbas (cerca 3 milhões de
dólares) para travar Isaías Samakuva e os seus militantes.
Para convencer o Presidente, o SINSE,
teria de enviar a presidência relatórios dos chefes de secções
municipais da segurança reconfirmando os supostos planos do grupo de
Isaías Samakuva.
Na altura, gerou controversa interna no
aparelho de segurança uma vez que o responsável do SINSE no município do
Cacuaco recusou a assinar o relatório alegando que a sua área de acção
estava controlada e que não havia movimentações de homens da UNITA, rumo
para o interior.
Mesmo sem o parecer do responsável do
SINSE no Cacuaco, a Presidência da República liberou as verbas que
acabaram por ser repartidas pelos directores da segurança de Estado que
haviam enganado o Presidente com a falsa informação a cerca dos planos
de Samakuva.
Segundo dados históricos, o que esta
acontecer com o SINSE, em Angola consumou-se também na Rússia ao tempo
da queda da policia secreta KGB. Na altura os directores destes
serviços secretos passavam também falsas informações ao Presidente russo
sobre supostos planos de derrube por parte dos seus opositores. Este
por sua vez também disponibilizava verbas para abortagem de tais planos
de golpes que ficavam com os responsáveis dos serviços secretos que não
lhes apresentavam as contas.
Tag: Golpe de Estado em Angola.
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