Partilha Nossa Página no Facebook Por que o México extraditou o traficante 'El Chapo' aos EUA um dia antes da posse de Donald Trump ~ Canal 82 | Agência de Notícias

sábado, 21 de janeiro de 2017

Por que o México extraditou o traficante 'El Chapo' aos EUA um dia antes da posse de Donald Trump

Janeiro parece ser um mês marcante para Joaquín "Chapo" Guzmán, um dos criminosos mais conhecidos do mundo.
Em janeiro de 2016, o traficante mexicano de 59 anos foi capturado seis meses depois de uma memorável fuga de uma prisão de segurança máxima através de um túnel.
Em 19 de janeiro de 2001, ele começou a criar sua fama ao escapar pela primeira vez de uma prisão - dessa vez dentro de um carro da lavanderia.
Em outro 19 de janeiro, porém 16 anos depois, a era de quem havia sido o líder do poderoso cartel de Sinaloa e símbolo da acirrada guerra ao narcotráfico chegou ao fim.




Na tarde desta quinta, o governo do presidente Enrique Peña Nieto o entregou às autoridades dos Estados Unidos, onde é procurado por lavagem de dinheiro, associação criminosa e crimes contra a saúde pública, entre outros.

'A medalha não é sua'

O fato de ele ter sido enviado aos Estados Unidos poucas horas antes de Barack Obama deixar o poder e Donald Trump assumir a Presidência nesta sexta não passou despercebido.
"Não quiseram dar a vitória a Donald Trump. A extradição hoje era o primeiro momento legalmente possível e politicamente viável. Foi como dizer: sim, o extraditamos, mas a medalha não é sua, Trump", disse à BBC o especialista em segurança Alejandro Hope.
"De qualquer forma iriam extraditá-lo, a decisão estava tomada há um ano, independentemente do processo eleitoral americano, e iriam extraditá-lo na primeira oportunidade possível", explica.
"É coincidência demais para pensar que não há intenção política", disse à BBC Jorge Chabat, professor do Centro de Investigação e Estudos Econômicos (CIDE, na sigla em espanhol), do México.
"A intenção do governo mexicano é enviar uma mensagem de que está disposto a colaborar com os Estados Unidos, que, se Trump colaborar, uma relação frutífera em termos de segurança é possível".
Chabat acredita que a mensagem pode ter duplo sentido. "Pode ser a mensagem de que querem entregá-lo a Obama, mas também pode significar que estão colaborando, querem que Trump entenda que o México pode ser um bom aliado em vez de manter um conflito permanente".
Na noite de quinta, o governo negou um possível vínculo entre a decisão e a chegada de Trump.
"Não tem a ver com nada", disse Alberto Elías Beltrán, vice-procurador jurídico de assuntos internacionais da Procuradoria Geral da República (Ministério Público). "Hoje foi resolvido e nós deveríamos fazer a entrega imediata da pessoa solicitada pelos Estados Unidos de acordo com os termos do tratado internacional. Se não o fizéssemos, estaríamos deixando de cumprir as normas internacionais e especificamente o tratado entre México e Estados Unidos."

O processo

A Chancelaria mexicana havia aprovado a extradição em maio, mas os recursos que a defesa de Guzmán apresentou à Justiça atrasaram o processo.
O Ministério Público iniciou o processo de extradição assim que o governo mexicano capturou Guzmán em janeiro de 2016.
Isso representou uma mudança na política do governo. Em 2014, quando 'El Chapo' foi detido pela segunda vez, o então procurador, Jesús Murillo Karam, disse que ele deveria ser julgado primeiramente no México e cumprir sua sentença.
"Eu consigo aceitar a extradição, mas quando eu disser que sim. 'El Chapo' tem que ficar aqui, cumprir sua pena e depois extraditá-lo. Uns 300-400 anos depois, falta muito", disse o procurador na época..



Porém, a humilhação que sua fuga em 2015 representou para o governo e a possibilidade de uma nova tentativa parecem ter infuenciado as autoridades a fazer o possível para que Guzmán fosse enviado aos Estados Unidos.
"El Chapo" - que estava em fuga durante 13 anos e que fez do cartel de Sinaloa a organização de narcotráfico mais poderosa do continente, com presença em dezenas de países na América, Europa, Oceania e África - estava em uma prisão na cidade Juarez, na fronteira com os Estados Unidos.
Na tarde de quinta-feira, foi levado de avião rumo a Nova York, onde ele enfrentará a Justiça americana.
Para Martín Barrón, pesquisador do Instituto Nacional de Ciências Penais (Inacipe, na sigla em espanhol), a decisão de enviá-lo um dia antes da mudança de governo nos EUA pode ser o fechamento de um ciclo.
"É um gesto ao governo de Obama, a última peça de toda essa luta contra o narcotráfico que foi realizada desde 2006 e com a administração de Obama como interlocutora com os governos mexicanos".

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