Partilha Nossa Página no Facebook Triste: Cubanos na Diáspora Comemoram Morte de Fidel Castro ~ Canal 82 | Agência de Notícias

sábado, 26 de novembro de 2016

Triste: Cubanos na Diáspora Comemoram Morte de Fidel Castro



Agora, sim, é verdade: Fidel Castro morreu. Talvez só para quem não gostava dele – porque para outros continua a viver, entre a incredulidade e a lenda. Na mais extensa das entrevistas que deu, a de cem horas, em 2005, ao antigo director do Le Monde Diplomatique Ignacio Ramonet, ele próprio antevia esta irrealidade: “No dia em que eu morrer de verdade, ninguém vai acreditar. Poderia andar como o Cid, o Campeador, que mesmo morto era levado a cavalo para vencer batalhas!” (Fidel Castro – Biografia a duas Vozes). Mas morreu mesmo; e ninguém o deverá levar sobre mais nenhum cavalo para mais nenhuma batalha, porque as teve de sobra, e disso se falará de hoje em diante até que a História arrefeça. Ainda é muito cedo.

Do campo ao mundo
Uma coisa é certa: Fidel, mesmo nascido num berço de ouro, voltou as costas à condição de filho de um fazendeiro azucarero, Ângel Castro, natural de Láncara, na Galiza, para desafiar vários líderes populistas da sua juventude, de Batista a Batista, passando por Grau San Martín ou Socarrás, e 11 presidentes norte-americanos durante cinco décadas – Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon, Ford, Carter, Reagan, Bush pai, Clinton, Bush filho e Obama –, em nome de uma ideia de revolução, que não foi realmente sempre a mesma. Que amadureceria – ou que empobreceria, conforme as opiniões – com o tempo, a idade e os ciclos da história, para acabar num país onde os direitos económicos e sociais não quereriam saber dos direitos civis e dos políticos – como, segundo os críticos, é a Cuba actual.

Um aviso: a maior parte dos autores que foram à fonte para beber a verdade sobre a vida do líder cubano ou tiveram de aceitar filtros, como Cláudia Furiati (Fidel Castro – Uma Biografia), que deveu parte dos seus apontamentos a gente da maior confiança do regime, ou revisões do entrevistado, como Gianni Miná, Frei Betto, Tomás Borge ou Ramonet.

“Quando adoeci gravemente na noite de 26 e na madrugada de 27 de Julho (de 2006), pensei que era o fim, e enquanto os médicos lutavam pela minha vida, o chefe de despacho do Conselho de Estado lia, por exigência minha, o texto, e eu ditava os ajustes pertinentes”, escreveu Fidel, no Granma, o órgão oficial do regime.

Fidel Alejandro Castro Ruz nasceu em Birán, um lugarejo rústico do Oriente, no dia 13 de Agosto de 1927, mesmo que na ilha não se queira que tenha nascido nesse dia e mês, mas um ano antes (daí ser noticiado que morreu aos 90 anos). Isto porque, não podendo, por falta de idade, frequentar o grau a que tinha direito por mérito próprio no Colégio de Belén, o pai conseguiu que o registo civil aldrabasse a escrita para o garoto se poder inscrever. Pelo menos foi o que averiguou Furiati. Motivo aparente da controvérsia: 26 é o número fetiche do regime, por causa do 26 de Julho de 1953.

Nasceu de Dom Ângel e de Lina, com quem o pai passou a viver e se casaria mais tarde, depois de se divorciar de Maria Argota, cresceu no meio das selvajarias próprias dos garotos da terra e da idade – tinha, por exemplo, um gosto particular em operar pássaros e outros animais com lâminas de barbear –, tornou-se exímio no manejo de armas; e, com o tempo, um atleta sem competidores à altura, principalmente quando chegou aos 1,85 metros – no basebol era o melhor, fosse pitcher ou right.

Rebelde com causa
Aluno de escolas jesuítas, era aplicado. Estudava até desoras, decorava páginas só de lhes passar os olhos, estava sempre entre os melhores. Era forte em Psicologia, História, principalmente da Revolução Francesa, e um apaixonado de Rousseau e Diderot, mas também bom nos números.

Tinha uma mania estranha: depois de ler uma página, rasgava-a e deitava-a fora. Um livro de 500, acabava em cem.

Quando era apanhado pelos professores ou pela mãe nalgum disparate maior, e foram vários – como uma vez em que quase matou o irmão Ramón, quando brincava com uma Winchester –, enfrentava-os calado e olhos nos olhos. E contam as biografias, autorizadas ou consentidas, que numa discussão a que assistisse se colocava sempre ao lado de quem estava a perder.

A vida política, Fidel Castro inicia-a na Universidade de Havana, onde entra no dia 27 de Setembro de 1945, na Federação dos Estudantes Universitários (FEU), repartindo a militância com o estudo de Direito. Cuba era nesse tempo um alvoroço, cheia de zaragatas, golpes, conspirações, gangsterismo, comércio de favores, bordéis com clientes certos: os Marines. Era um país à procura do amor-próprio, refém da Emenda Platt, que desde 1901 o acorrentava aos Estados Unidos. A anacrónica base de Guantánamo veio daí.

É nesses anos, na FEU, que se molda, na luta pela direcção dos estudantes, ou contra o sistema, na altura representado por Grau, alvo do seu primeiro discurso público, ou insignes bandidos como Salabarría ou Masferrer, que eram uma espécie entre os polícias e os pistoleiros. É nesses anos que mergulha na vida e nas memórias do “apóstol” José Martí, Bolívar, Antonio Jose de Sucre. É nesses anos que sobe, desce e discursa, já então aos borbotões, na Escalinata, de acesso à escola. E é por esses anos também que anda com uma pistola entalada no cinto das calças, que passa pelo Partido do Povo Cubano, de Eduardo Chibás, que levava uma cruzada contra a corrupção mas num quadro pequeno-burguês, que conhece Lesnick, Alfredo Guevara e outros que o hão-de acompanhar.

Nessa altura, Raúl, o irmão, levava um pouco a sua própria vida, mas seguia cada vez mais a dele.

No meio de conjuras, flyers, jornais clandestinos e programas radiofónicos de curta duração, lá acaba o curso e abre um escritório em Havana, onde defende causas de operários em Melena del Sur ou de camponeses em Santa Cruz del Norte, frequentemente sem levar nada. Tem uma ideia fixa: derrubar Batista.

No dia 26 de Julho de 1953, a coberto da paródia do carnaval cubano, o Movimento tenta a sorte, em Santiago, contra os quartéis de Moncada e Bayamo. Morrem três atacantes, 87 serão presos, torturados e mortos. O tiro de partida falha. Fidel e outros, apanhados numa cabana, a dormir, e o irmão, vão para Boniato, a seguir para a da Ilha dos Pinheiros, de onde sairão com vida mas para serem julgados, assumindo ele a própria defesa durante duas horas num trecho que se transformará num libelo contra o regime – A História Me Absolverá.

Amnistia, exílio no México, a casa de María Antónia, o encontro com um jovem argentino que andava a conhecer o mundo, um tal Guevara, que começava ou acabava as frases com "che", que tanto pode ser o nosso "pá", como "olá" ou "caramba"; treinos físicos em inocentes ginásios e de tiro em quintas emprestadas, mil fintas aos agentes de Havana, como o senhor Veneréo; e um iate chamado Granma, a cair de podre no porto mexicano de Tuxpan.

Fidel Castro já levava algum lastro político. Participara no Bogotazo, em 1948 – na verdade, por acidente, pois ia para um encontro com Jorge Gaitán, que nunca conheceria –, tentara uma aventura contra Trujillo, o ditador dominicano, e contra Moncada, e comprara em Nova Iorque, onde foi com Hilda, já divorciado de Mirta, um livro extraordinário: O Capital.

Agora era tudo ou nada. Numa madrugada de Novembro de 1956, o barco, de 12 metros e com uma capacidade máxima para 25 pessoas, largou a abarrotar de presuntos, laranjas, leite condensado e 82 homens. Uma semana depois chegava às costas de Cuba, com a ajuda, entre outros, de um mapa que o Movimento 26 de Julho conseguira de um navio português que meses antes arribara ali. Desembarque, pântanos, mosquitos, combates, emboscadas de toca-e-foge, Sierra Maestra; a entrevista a Herbert Mathews, do New York Times; baixas, fuzilamentos. No torvelinho, Célia Sánchez, tão próxima dele como da revolução. E Havana, no último dia de 1958.

O repórter ficou encantado. Desmente a morte do chefe do M-26, que a propaganda batista espalhava aos sete ventos, e descreve-o como um campeador: “A sua personalidade é cativante. (…) É fácil compreender porque os seus homens o adoram. (…) À primeira vista, fisicamente e como personalidade, é um homem educado, de uma dedicação fanática à causa, um homem de ideais, coragem e qualidades notáveis de liderança. As suas ideias de liberdade, democracia, justiça social, necessidade de restaurar a Constituição, realizar eleições, estão bem arraigadas. (…) O programa é vago, com disposições generalizantes, mas traz uma nova proposta para Cuba, radical, democrática e (…) anticomunista”, escreve, comparando o entrevistado e Bolívar, Lincoln e Robin Hood.

Mathews escreveu a quente. A Sierra Maestra não era Sherwood. Havana aproxima-se de Moscovo, os Estados Unidos eriçam-se, cada um escolhe o seu lado na Guerra Fria; vem o embargo, no futuro revisto e aumentado, uma sucessão de episódios que marcaram a ilha e o mundo, a Baía dos Porcos, em 1961, a crise dos mísseis um ano depois, a exportação da revolução, a morte de Che na Bolívia, atentados, a aventura angolana, enquanto mesmo assim tomava forma uma sociedade que erradicaria o analfabetismo e faria da saúde um direito elementar, bem como a habitação.

“Patria o muerte!”
E por fim a partida da História com que Fidel não contava: a derrocada dos regimes comunistas do Leste europeu, a perda dos principais compradores do açúcar cubano, o “período especial”, a onda de balseros, de 1994, a aflição económica, apesar das receitas turísticas e das remessa dos emigrantes, no grito com que sempre – e desde então ainda mais – terminava os seus intermináveis discursos: “Patria o muerte!”


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