AUGUSTO CAMPOS, LUANDA, 15 Outubro 2014: Inspectores da Polícia Judiciária e procuradores do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) estiveram na manhã desta quarta-feira a realizar buscas em dependências do Novo Banco (ex-BES) e residências em diversos pontos do país. As diligências terão começado manhã cedo.
Fonte da Polícia Judiciária adiantou ao PÚBLICO
que em causa estão crimes de branqueamento de capitais cujas suspeitas
recaem sobre o general Bento dos Santos "Kangamba", sobrinho por
afinidade do Presidente da República de Angola, José Eduardo dos Santos.
No
esquema de branqueamento, o general usaria aquele banco, mas não
existem suspeitas para já de que o BES (agora Novo Banco) tivesse
conhecimento da proveniência ilícita dos montantes, cujos valores não
são para já conhecidos.
As buscas domiciliárias decorreram em habitações que são propriedade do general e dos seus familiares que residem em Portugal.
O porta-voz oficial do Novo Banco, contudo, garantiu que o banco não foi alvo de buscas policiais na sede ou nas suas agências.
A
Procuradoria-Geral da República já esclareceu, entretanto, que as
buscas decorrem no âmbito de investigações do DCIAP que não estão
relacionadas com o "universo Espírito Santo", isto é, não está em causa
qualquer irregularidade na actividade do banco neste caso.
Bento
dos Santos é casado com uma filha de Avelino dos Santos, irmão de José
Eduardo dos Santos. É também dirigente do Movimento Popular de
Libertação de Angola (MPLA), o partido que está no poder naquele país
africano. É tido também como próximo do general Manuel Hélder Vieira
Dias “Kopelipa”.
O nome de Bento
dos Santos aparece referenciado em várias investigações da polícia e
casos judicias. Em Outubro do ano passado, a polícia brasileira
desmantelou uma rede de tráfico de mulheres para a prostituição em
África do Sul, Portugal, Angola e Áustria. Os investigadores brasileiros
imputavam então a liderança da rede ao general angolano, segundo o
jornal Expresso.
Um
porta-voz de "Kangamba", citado pela agência Angola Press, desmentiu,
porém, o alegado envolvimento. “Facilmente se depreende, pelo teor das
notícias, que a intenção de citar o seu nome visa atingir e caluniar
outras personalidades do Estado angolano”, considerou.
Bento
dos Santos, que era na altura procurado no Brasil, é presidente do
Kabuscorp Futebol Clube do Palanca e, segundo noticiou o Expresso e o jornal Estado de São Paulo,
é também um dos principais patrocinadores do Vitória de Guimarães. Foi
dado como interessado em entrar no capital do Belenenses, no sentido de
comprar 9%, mas o negócio não chegou a concretizar-se. Em Angola investe
em áreas como a construção e imobiliário.
De
acordo com a polícia brasileira, os membros da rede, alegadamente
liderada pelo general angolano, aliciavam mulheres em casas nocturnas do
bairro de Indianópolis, a sul de São Paulo, com elevadas quantias de
dinheiro (dos 7200 a 72 mil euros). Uma vez no estrangeiro, eram
mantidas sob sequestro e obrigadas a manter relações sexuais sem
preservativo. A essas mulheres era dado um alegado cocktail de drogas anti-sida.
Foi
precisamente através do futebol que, acreditam os polícias brasileiros,
a organização terá movimentado e branqueado cerca de 33 milhões de
euros angariados com o tráfico de mulheres desde 2007.
O jornal Estado de São Paulo,
que então avançou com informações sobre a acção policial denominada
“Operação Garina”, escrevia que "o general é dirigente do MPLA, o mesmo
partido do Presidente, e tem influência no Governo por meio de sua
mulher, uma filha de Avelino dos Santos, irmão do Presidente".
Também
em Junho de 2013, o general surgiu nas páginas dos jornais
internacionais, sendo notícia em França por alegado envolvimento numa
investigação em curso sobe a posse de elevadas quantias de dinheiro não
declarado. Nesse mesmo mês foi também noticiado que comprou uma casa no
mesmo condomínio privado do futebolista português Cristiano Ronaldo, em
Madrid.
Além deste caso, o nome de Bento dos Santos "Kangamba" está também envolvido noutro processo em França.
A
14 de Junho, a polícia alfandegária francesa apreendeu perto de três
milhões de euros encontrados no porta-bagagens de dois Mercedes de
matrícula portuguesa, e deteve cinco indivíduos, de nacionalidade
portuguesa, angolana e cabo-verdiana, acusados de branqueamento de
capitais e crime organizado, segundo o jornal La Provence.
Tag> Bento Kangamaba Branqueamento de capitais, bento Kangamba Pj Alvo.
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