AUGUSTO CAMPOS | LUANDA, 03 Julho 2014: Mais
de cinquenta chefes de Estado e de governo africanos serão ouvidos por
Barack Obama amanhã e quarta-feira em Washington, capital dos Estados
Unidos da América, durante a Cimeira EUA/África. José Eduardo dos Santos
não erá um deles. Para a cimeira com um dos chefes de Estado mais
influentes do mundo, José Eduardo dos Santos decidiu fazer-se
representar pelo vice-presidente Manuel Vicente, uma ausência que não
está a ser vista com bons olhos, tendo em conta a estratégia de Angola
de se afirmar como um actor fundamental na diplomacia africana.
Especialistas ouvidos pelo Rede Angola divergem na
opinião sobre a ausência do Presidente A cimeira é esperada com grande
expectativa devido à sua importância e abrangência. Por este motivo e
por ser a primeira reunião entre a potência mundial e o continente
berço, dizem os especialistas que, é “oca” a participação do
vice-presidente quando não existem motivos de força maior que impeçam a
presença de José Eduardo dos Santos.
Para o especialista em relações internacionais, Raul Pascoal, numa
altura em que as relações bilaterais EUA/Angola têm conhecido melhorias
significativas, a não participação do presidente angolano pode criar
mal-estar na Casa Branca.
“Angola faz parte da lista de países que muito interessa aos Estados
Unidos. É por isso que temos visto a passagem pelo nosso país de
influentes figuras norte-americanas desde que alcançámos a paz, em 2002.
Só para citar, muito recentemente tivemos a presença do secretário de
Estado John Kerry que, no meio de uma larga agenda de trabalho, escolheu
também Angola como prioridade. Então, nada melhor que retribuirmos esse
carinho e amizade com uma representação na cimeira com a presença de
Eduardo dos Santos”, afirmou.
O cientista político Raimundo Terêncio, considera que a decisão de
JES não representa nenhuma novidade e já era uma situação previsível.
Segundo o mesmo, nos últimos anos, o presidente angolano tem evitado a
sua participação em encontros internacionais. O que indica alguma falta
de interesse ou desgaste, numa carreira política que já soma mais de
trinta anos de poder.
“Cada vez mais o nosso presidente denota cansaço político. Tem
faltado em muitos encontros internacionais e a sua agenda de deslocação é
cada vez mais limitada. Ultimamente só vai onde lhe interessa.
Portanto, quando soube que não iria à Cimeira EUA-Africa não me assustei
porque já era algo previsível”, referiu.
Por sua vez, o deputado do MPLA Fragata de Moraes, afirma que a
ausência de José Eduardo dos Santos na Cimeira EUA/Africa não criará
nenhum problema porque se trata apenas de um fórum de auscultação. E não
de decisão.
“O presidente norte americano vai auscultar os problemas, porque eles
[os americanos] não têm politica externa africana. E esta cimeira vai
desenhar uma politica externa para África. Penso que o vice-presidente
está muito bem capacitado para dar todas as informações necessárias
sobre Angola”, sublinha o deputado.
“Investir na próxima geração”
Temas como saúde, vida selvagem, energia, comércio e investimentos em
África, bem como a paz e segurança no continente, fazem parte da agenda
oficial desta cimeira que tem como o tema central “Investir na próxima
geração”.
O vice-presidente já se encontra em Washington desde ontem,
acompanhado por alguns membros do executivo angolano, entre os quais o
ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, dos Transportes,
Augusto Tomás, das Finanças, Armando Manuel, do Comércio, Rosa Pacavira,
e da Economia, Abrahão Gourgel.
A cimeira está dividida em três sessões, “Investir no futuro de
África”, “Paz e a estabilidade regional” e “Governar para a próxima
geração”.
À margem da cimeira, a Câmara do Comércio Angola-EUA vai organizar
uma conferência sobre “As oportunidades de negócios para investimentos
em Angola” e realizar um almoço com membros do executivo angolano, da
administração norte-americana, empresários do ramo petrolífero e
diplomatas.
Estão ainda previstos encontros no Congresso dos EUA e um fórum de
negócios EUA/África, visando encorajar o investimento empresarial
americano no continente africano e vice-versa, bem como estimular a
criação de postos de trabalho.
RA