Abriu portas a maior feira de telecomunicações a decorrer na Europa. Mais de 2 mil empresas mostram o que de melhor se faz no sector. Neste domingo, os maiores fabricantes mostraram as suas novidades. Não vi nada de particularmente disruptivo e destaco que a Samsung fez a apresentação mais low profile dos últimos anos. Este mercado passa por um período de estagnação? Não. Afinal, até a Nokia está de regresso
Esamos em Barcelona para acompanhar mais uma edição do Mobile World Congress, a maior feira de telecomunicações a decorrer na Europa. Como em qualquer outro evento deste tipo, os fabricantes tentam marcar a agenda realizando conferências de imprensa no dia que antecipa a abertura oficial da feira. Foi o que aconteceu no domingo. Samsung, LG, Huawei e Nokia (sim, a Nokia está de volta) fizeram eventos com o intuito de “secar” a concorrência.
O regresso da Nokia, com uma reedição do clássico 3310 (onde nem falta uma nova edição do jogo “Snake”), foi o que mais chamou a atenção da comunicação social. Nós, jornalistas, adoramos histórias de sobrevivência, e de sobreviventes, e esta nova fase da Nokia (que resulta da parceria entre uma empresa finlandesa e a chinesa Foxconn – que fabrica o iPhone para a Apple) assenta que nem uma luva na nostalgia que temos, que tenho, pelos primórdios dos telemóveis.
No entanto, uma análise desapaixonada mostra que são muito reduzidas as possibilidades de a Nokia singrar nesta nova encarnação. A empresa está a apostar em telefones de baixo preço e de configurações pouco ambiciosas. Ou seja, a estratégia é de volume, em vez de margens.
Mesmo tendo em conta a vasta capacidade de produção da Foxconn e a expertise dos finlandeses, só uma entrada de leão no mercado chinês e indiano pode dar algum alento às expectativas de sucesso da “nova” Nokia. Mas basta recuar à altura em que a Microsoft comprou a Nokia e seguiu, sem sucesso, uma estratégia semelhante para perceber, rapidamente, que o mercado dos telefones de baixo preço é hoje uma selva povoada por centenas de fabricantes que abdicam da qualidade para conseguir dar preço. É por essa razão que a Samsung já não está no segmento, a Apple nunca esteve e fabricantes como a LG ou a Huawei têm cada vez menos dispositivos segmentados para a entrada de gama.
Recordo-me de estar num dos últimos Nokia World (eventos anuais onde o fabricante finlandês revelava a sua estratégia) onde Stephen Elop, o canadiano que preparou a Nokia para ser entregue à Microsoft, mostrou uma série de dispositivos criados exclusivamente para mercados emergentes. Os Asha (nome da gama de telefones) eram pequenos smartphones com parcas capacidades e, claro, preços muito convidativos.
Naqueles vídeos inspiracionais, tão típicos de eventos internacionais, víamos indianos e chineses a dizer como aqueles terminais tinham a capacidade de mudar vidas. Na verdade, acabaram por mudar a vida dos que trabalhavam na Nokia. A maioria assim que chegou à Microsoft foi despedida. Os que resistiram à primeira investida acabaram por sair da empresa norte-americana mais tarde. Aliás, nem o próprio Elop escapou: em 2015 saiu pela porta pequena quando Steve Ballmer acabou o seu mandato de CEO e saiu da empresa após 25 anos de Microsoft.
Ora, se a estratégia não funcionou com os milhões de euros que a Microsoft colocou na Nokia e na aposta que fez na área móvel… como vai resultar agora? Sim, o 3110 é engraçado e por 50 euros até acredito que possa tornar-se um fenómeno de culto, mas telefones deste tipo não faltam no mercado. Por isso, antecipo que este “revival” da Nokia será muito efémero. Mesmo assim, na reportagem que a TVE fez, ao final da noite, sobre as apresentações que antecipam o Mobile World Congress, a Nokia teve honras de abertura.
A LG continua a sua luta para manter-se no mercado dos smartphones. Depois de no ano passado, aqui em Barcelona, ter deixado boas indicações com a apresentação do G5 (um telefone modular, ao qual é possível, por exemplo, colocar uma câmara melhor ou som de maior qualidade), a empresa acabou por ter mais um ano modesto - e o tal G5, do qual gostei muito, foi um flop. Este ano, o fabricante coreano mostrou o G6. Um smartphone que vou experimentar na feira e que, estou convencido, marcará o regresso da LG a um rumo mais alinhado com aquilo que os utilizadores procuram.
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