sábado, 18 de março de 2017

36.000 Kzs por 100 dólares no mercado informal



O preço para comprar uma nota de dólar norte-americano no mercado informal voltou a descer, ligeiramente, na última semana, para novos mínimos do ano, perto dos 360 kwanzas, no mesmo período em que o Banco Nacional de Angola (BNA) triplicou o volume de divisas vendidos no mercado primário.

Se há um mês o banco central disponibilizou apenas 182,3 milhões de euros, na última semana (de 6 a 10 de Março), o BNA realizou vendas de divisas ao mercado no montante de 505,7 milhões de euros, contra os 409,2 milhões da semana anterior. Na semana de 20 a 24 de Fevereiro, o BNA realizou vendas de divisas ao mercado no montante de 348,6 milhões de euros. 

No último leilão, as operações da indústria absorveram o maior valor (206,5 milhões de euros), enquanto cobertura de operações de viagens, ajuda familiar, saúde e educação beneficiou de 17,9 milhões de euros e igual montante para operações de cartões de crédito. 
A queda confirma a tendência de quebra da cotação de moeda estrangeira no mercado informal desde os primeiros dias do ano. O novo mínimo contrasta com o pico de 500 kwanzas (2,85 euros) por cada dólar dos primeiros dias de Janeiro, nas ruas de Luanda.

Por outro lado, persistem limitações no acesso a divisas nos bancos, mesmo nas contas em moeda estrangeira, o que torna o mercado de rua, para muitos nacionais e estrangeiros, a única forma de aceder a dólares ou euros em Angola.

Os empresários que necessitam de importar matéria-prima estão agora obrigados a dirigir uma carta ao Ministério da Indústria para solicitarem divisas nos bancos, enquanto os não residentes cambiais já não podem levantar moeda estrangeira nas próprias contas, por determinação do banco central. Os cambistas de rua continuam a justificar a quebra com a falta de kwanzas suficientes para realizar as trocas, o que acaba por valorizar a moeda nacional.

A venda de cada dólar esteve fixada em 370 kwanzas no bairro de São Paulo e em 365 kwanzas no bairro dos Mártires de Kifangondo. Na Mutamba, a nota de dólar foi transaccionada a 380 kwanzas, o mesmo preço praticado pelas kinguilas do Maculusso.

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira e económica decorrente da quebra para metade nas receitas de exportação de petróleo, tendo desvalorizado o kwanza, face ao dólar, em 23,4 por cento em 2015 e mais 18,4 por cento ainda no primeiro semestre de 2016. A taxa de câmbio oficial cifra-se actualmente em cerca de 166 kwanzas (95 cêntimos de euro) por cada dólar, quando antes do início da crise, ainda em 2014, era de 100 kwanzas. Face à falta de dólares nos bancos, a taxa de rua já esteve próxima dos 600 kwanzas por cada dólar em Agosto e Julho, depois de máximos de 630 kwanzas em Junho.
Em Janeiro, estiveram em circulação notas e moedas no valor de 447.718 milhões de kwanzas (2.500 milhões de euros), uma quebra de dez por cento no espaço de um mês que também justifica a valorização da moeda nacional no mercado paralelo.
Dados do Banco Nacional de Angola (BNA) sobre a Base Monetária Ampla do país dão conta que, entre Dezembro e Janeiro, deixaram de estar em circulação (física) no país 48.661 milhões de kwanzas (mais de 275 milhões de euros).
Em Dezembro do ano passado, o banco central garantiu que não previa qualquer nova desvalorização do kwanza, face à “tendência de estabilidade” dos preços, e já no final de Janeiro vendeu aos bancos o valor máximo de divisas desde praticamente o início da crise, em 2014: mais de 600 milhões de euros no espaço de uma semana. 
“Tendo em conta a tendência de estabilidade do nível geral dos preços e consequentemente a desaceleração da taxa de inflação mensal, o BNA reafirma o seu engajamento na preservação do valor da moeda nacional, razão pela qual não haverá desvalorização do kwanza”, lê-se no mesmo documento do banco central angolano, emitido em Dezembro.

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