Por George. E por Boris. Era assim, com a proximidade de dois amigos, que Ieltsin e o pai Bush se tratavam. A 1 de fevereiro de 1992, um sábado, vestidos com roupas informais de inverno, os então líderes da Rússia e dos Estados Unidos declararam formalmente o fim da Guerra Fria. Faz hoje 25 anos. Os dois trocaram elogios e promessas de cooperação. "Considero-o um amigo", disse George. "Tenho sorte, como político e a nível pessoal, de o ter conhecido", devolveu Boris.
Da Rússia com amor?
Na sexta-feira passada o presidente dos EUA voltou a dizer que espera ter uma "relação fantástica" com Putin e no fim de semana os dois líderes falaram por telefone. Depois da conversa, tanto o Kremlin como a Casa Branca sublinharam que o diálogo fora positivo e que os dois presidentes tinham acordado colaborar em questões económicas e na luta contra o terrorismo.
Na opinião de Kuzio - à semelhança do que aconteceu no passado - esta será "mais uma tentativa de começar tudo do zero que irá falhar". Para o investigador há dois motivos para esse fracasso. Por um lado, "o regime autoritário de Putin precisa de inimigos para existir". Por outro, "os russos acreditam que não fizeram nada de mal e que é o Ocidente que tem que mudar".
A questão ucraniana será uma variável chave no romance entre Moscovo e Washington. Por muito que Donald Trump queira, será muito difícil retirar as sanções económicas impostas à Rússia. A anexação da Crimeia, no fundo, faz com que Putin e Trump estejam condenados a não conseguirem entender-se. "Não têm condições para fazer um bom acordo. Trump não pode fazer as concessões sobre a Ucrânia que Putin reclama", explica Carlos Gaspar, investigador Instituto Português de Relações Internacionais. Caso os EUA reconhecessem "explícita ou implicitamente a Ucrânia como parte da esfera de influência da Rússia estariam a rever os acordos que definem a ordem internacional do pós-Guerra Fria", acrescenta o analista.
Estalando o verniz entre os dois, Taras Kuzio não tem dúvidas de que a zanga será feia: "Quando as relações azedarem Trump irá enviar armas para a Ucrânia".
Em teoria, a luta contra o terrorismo - em particular contra o Estado Islâmico (EI) - seria uma batalha na qual EUA e Rússia jogariam no mesmo lado. Mas na prática os analistas ouvidos pelo DN não estão certos de que assim seja. "O objetivo de Putin é assegurar a sobrevivência do regime alauíta na Síria, consolidar a convergência estratégica com o Irão e separar a Turquia da NATO. A neutralização do EI é um objetivo secundário para a Rússia", sublinha Gaspar. "O ISIS é uma ameaça apenas para o Ocidente", assinala Kuzio na mesma linha de pensamento.
Donald Tusk ao ataque
Enquanto a relação entre Moscovo e Washington não esfria, a de Bruxelas com Trump vai ficando menos calorosa. Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, qualificou como "preocupantes" as posições do novo líder dos EUA, acrescentando que "parecem colocar em causa os últimos 70 anos de política externa norte-americana". O ex-primeiro-ministro polaco, na carta que enviou aos chefes de Estado e de governo da União Europeia, fez questão de referir a "assertiva" chinesa na questão dos mares e a "agressividade" da política russa para com a Ucrânia, como duas das variáveis que tornam o futuro imprevisível.
Em matéria de guerras frias, Milhazes acredita que a próxima será também travada a Oriente: "Além de ter armas nucleares, a China é uma potência económica. O problema nas relações dos EUA com China poderá ser muito mais complexo do que com Moscovo".
Estará então a nascer uma nova guerra fria? "Possivelmente sim e isso poderá levar a confrontos militares no mar do Sul da China", defende Kuzio. O mesmo analista antevê ainda que possa começar outra guerra caso Taiwan declare independência e Donald Trump decida reconhecê-la em afronta a Pequim.
"Parece que o mundo se está a preparar para a guerra", sentenciou na revista Time na semana passada Mikhail Gorbachev, o último líder da ex-União Soviética.
PARTILHA NO FACEBOOK COM AMIGOS...