Luís Rui Isaac, membro fundador e antigo secretário executivo nacional adjunto da CASA-CE, e Alexandre Eduardo Coche, até então secretário da coligação no município de Belas, em Luanda, anunciaram ontem publicamente a sua dissidência à formação liderada por Abel Chivukuvuku e manifestaram-se disponíveis para ingressar no partido no poder.
Rui Isaac e Alexandre Coche fizeram o anúncio durante uma conferência de imprensa em Luanda e mostraram-se desiludidos com o rumo que está a ser seguido pela CASA-CE. E, num momento que dizem ter sido oportuno, decidiram abandonar a coligação.
Rui Isaac, que já chegou ao posto de secretário executivo nacional adjunto da CASA-CE e que até à sua renúncia era comissário provincial eleitoral da Lunda Sul pela coligação, denunciou a existência de injustiças e proteccionismo no seio daquela formação política. Acusou o presidente da CASA-CE, Abel Chivukuvuku, de estabelecer “acordos secretos” com os líderes dos partidos coligados que em 2012 não conseguiram ser eleitos deputados a Assembleia Nacional.
Rui Isaac disse que os acordos secretos são os mesmos que impedem a transformação da CASA-CE em partido político. “A não entrada de alguns companheiros no Parlamento começou a gerar problemas”, disse o político, adiantando que, para acalmá-los, decidiu-se pela atribuição de uma viatura e de 500 mil kwanzas mensais.
“Os acordos secretos entre Abel Chivukuvuku e os dirigentes dos partidos coligados que não entraram no Parlamento é que impedem a transformação da CASA em partido. O presidente Abel está refém dos partidos políticos coligados, cujos líderes não estão interessados na passam da CASA a partido”, afirmou. Ainda relativamente à lista de candidatos a deputados pela CASA-CE nas eleições gerais de 2012, Rui Isaac manifestou o seu descontentamento por ter sido colocado na posição número 18, quando pessoas que terão feito menos trabalho foram colocados acima. “Nós é quem trabalhamos nos acordos para a constituição da CASA (...) Há pessoas que não fizeram nada mas apareceram acima de mim”, lamentou Rui Isaac, que diz ter sido ele quem contactou Lindo Bernardo Tito, um dos vice-presidentes, para aderir à coligação.
Durante a conferência de imprensa, Rui Isaac comentou a afirmação de Abel Chivukuvuku proferida no último congresso, realizado em Setembro do ano passado, segundo a qual “em 2017 a CASA-CE é governo ou vai fazer parte dele”. Segundo Rui Isaac, Chivukuvuku usou nada mais do que uma simples retórica, pois a coligação não está em condições de vencer as eleições, nem de alcançar um resultado que lhe permita integrar um governo.
“Isso não é verdade! Ele apenas quis simular os militantes. Não tenho conhecimento de que o Dr. Abel tenha algum compromisso com o MPLA ou com a UNITA. Todos sabem que ele é bom em retórica, é eloquente, mas o que ele afirmou não é verdade. Se for verdade, vamos ver depois da divulgação dos resultados eleitorais”, declarou Rui Isaac, antes de questionar-se: “Se não há trabalho político nem mobilização ou núcleos, como é que se pode atingir o poder”? Rui Isaac diz ser por isso e, sobretudo, por haver injustiça no seio da CASA-CE que abandona esta formação política e está pronto para ingressar no MPLA, partido onde diz ter crescido. Este é o mesmo sentimento de Alexandre Coche, que aderiu à CASA a convite de Rui Isaac. Alexandre Coche mostrou-se arrependido por ter ficado cerca de cinco anos a dedicar-se a uma causa cujos frutos não apareciam. Contou que, de quando em vez, chegou mesmo a pôr de parte a sua profissão de técnico de construção civil para dedicar-se à coligação.
Alexandre Coche diz ter ganho alguma experiência como político. Revelou que a CASA-CE conta com cerca de três mil militantes no município de Belas, muitos dos quais por si mobilizados. Na hora do abandono, Alexandre Coche considerou que cabe aos seus então subordinados decidirem se seguem ou não o seu exemplo, mas ele disse ter feito a opção mais acertada: seguir Rui Isaac, que o considera seu mentor político, para uma nova aventura.
CASA-CE deseja sucesso
O Jornal de Angola ouviu a reacção de Lindo Bernardo Tito, um dos vice-presidentes da CASA-CE, que, depois de uma gargalhada, negou, categoricamente, que tenha aderido à coligação pela mão de Rui Isaac. Esclareceu que está na CASA-CE por ter liderado um grupo de políticos independentes designado por “Plataforma” que integra a coligação.
Relativamente às acusações de Rui Isaac dirigidas à coligação, Lindo Tito disse que o seu antigo companheiro fez apenas uma jogada política, pois já se terá percebido que seria afastado do cargo de membro da Comissão Provincial Eleitoral da Lunda Sul, por não estar a desempenhar correctamente o seu papel de comissário eleitoral, preferindo a antecipação ao seu afastamento. Informou que a CASA-CE está a fazer a avaliação do desempenho de todos os seus membros.
O dirigente da CASA-CE considerou normal o abandono de Rui Isaac, pois a coligação é uma instituição democrática e aberta. “Entram na CASA aqueles que manifestarem vontade para tal e saem aqueles que entenderem que o seu papel já não é relevante. A CASA, como instituição democrática, em momento nenhum deixará de reconhecer o direito daqueles que puderem abandoná-la, bem como os direitos daqueles que a vão integrar. Estamos numa sociedade democrática e aberta e a filiação partidária depende de cada um dos cidadãos”, sustentou.
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