sábado, 7 de janeiro de 2017

Morreu Mário Soares, o presidente da Liberdade



Mário Soares morreu este sábado. Estava hospitalizado desde 13 de dezembro no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa.

Contando-se entre os membros fundadores do Partido Socialista (PS), Mário Soares foi uma das mais complexas personalidades políticas europeias, e um dos mais notáveis protagonistas da História da política portuguesa da segunda metade do século XX.

Tendo sido empossado três vezes como primeiro-ministro de Portugal, o dirigente socialista foi ainda presidente da República Portuguesa em dois mandatos, e há-de ser recordado sobretudo como o ministro dos quatro primeiros governos provisórios do Portugal democrático que iniciou oficialmente o processo de descolonização.

Foi ele também quem deu início ao processo de adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE) e subscreveu, enquanto primeiro-ministro, o Tratado de Adesão à CEE.

Vida no exílio

Mário Alberto Nobre Lopes Soares nasceu em Lisboa, em 7 de dezembro de 1924, filho de Elisa Nobre Soares e de João Lopes Soares, professor, pedagogo, autor e político da Iª. República. Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas e em Direito pela Universidade de Lisboa, foi professor do ensino secundário (particular) e diretor do Colégio Moderno, fundado por seu pai. Exerceu a advocacia durante muitos anos e, quando do seu exílio em França, foi "Chargé de Cours" nas Universidades de Vincennes e da Sorbonne, em Paris, e professor associado na Faculdade de Letras da Universidade da Alta Bretanha, em Rennes.
Resistente à ditadura (ao regime do Estado Novo) e ativo na organização da Oposição democrática ao salazarismo, Mário Soares defendeu presos políticos, enquanto advogado, participando em numerosos julgamentos no Tribunal Plenário e no Tribunal Militar Especial.

Pela sua atividade política contra a ditadura, foi também preso mais de uma dezena de vezes pela polícia política do Estado Novo, a PIDE. Chegou a estar deportado sem julgamento, em África. Também esteve exilado em França, de onde regressou três dias depois da revolução de 25 Abril de 1974, tendo chegado à estação de Santa Apolónia, em Lisboa, transportado pelo "comboio da liberdade", conforme ficou conhecido o "Sud-Express" de 28 de Abril daquele ano.

Em 17 de Fevereiro de 1986, assinalando a vitória de Mário Soares (na véspera) nas eleições do primeiro presidente da República civil eleito diretamente pelo povo na história portuguesa, o JN escrevia: "Mário Alberto Nobre Lopes Soares é um nome de família sonante. Não obrigatoriamente pelos Nobres, pelos Lopes ou pelos Soares, mas pelos Mitterrands, pelos Brandts ou pelos Palmes, todos membros dessa heterogénea e espalhada "família" que já tantos chefes de Estado e governantes deu ao Mundo - a Internacional Socialista (IS)".

Protagonista do século XX

No entanto, Mário Soares "chefe de governo" - conforme afirmam vários dos seus companheiros de vida pública - não foi o melhor Soares dos vários que foram conhecidos. Dele se dizia, na altura, que era "um especialista a derrubar governos, até os seus! O Soares antifascista e o Soares anticomunista eram melhores do que Soares primeiro-ministro", segundo palavras do sociólogo e cronista António Barreto, que foi ministro da Agricultura e Pescas de Mário Soares no I Governo Constitucional de Portugal (1976-1978).

Como um dos mais notáveis protagonistas da História política portuguesa da segunda metade do século XX, Mário Soares também tentou escrever (ou reescrever) história - na verdadeira aceção dos termos -, conforme consideram personalidades que lhe foram próximas. "Soares (nem sempre rigoroso) quis cuidar da sua história, ao mais ínfimo pormenor", escreve António Barreto, que, em 1985, foi membro da sua Comissão Política de candidatura à Presidência da República.

Aliás, a par das várias biografias oficiais e/ou oficiosas de Mário Soares, a sua personalidade e ação são descritas em outras obras diversas, as quais nem sempre foram do seu agrado nem causam satisfação à "tribo soarista" no Partido Socialista.

Como secretário-geral do PS, vice-presidente da IS (cargo para que foi eleito no Congresso de Genebra, em 1976, e depois sucessivamente reeleito (era Presidente Honorário desde 1986), Mário Soares desenvolveu grande atividade internacional. Foi presidente das Comissões da IS para o Médio-Oriente e para a América Latina, e realizou várias missões de informação àquelas zonas, assim como à África Austral. Participou em numerosas negociações, encontros, colóquios, congressos e missões no quadro da IS e fora dele.

Em 13 Dezembro de 1995 assumiu a presidência da Comissão Mundial Independente sobre os Oceanos; em Março de 1997, a presidência da Fundação Portugal África e a presidência do Movimento Europeu; em setembro do mesmo ano, a presidência do Comité Promotor do Contrato Mundial da Água e, em dezembro seguinte, a presidência do Comité dos Sábios do Conselho da Europa. Era também Conselheiro de Estado.

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