terça-feira, 3 de janeiro de 2017

4 de Janeiro de 1961: O Massacre da Baixa de Cassanje



Foi a 4 de Janeiro de 1961 que colonos portugueses reprimiram cerca de 20 mil camponeses angolanos, naquilo que ficou na história como o massacre da Baixa de Cassanje, território localizado entre as províncias de Malanje e da Lunda Norte.


A efeméride é assinalada amanhã, como data de celebração nacional, considerado o dia dos Mártires da Repressão colonial, num momento em que o Executivo angolano tem as suas atenções viradas para a melhoria da qualidade de vida da população. 

Nesse dia, trabalhadores agrícolas das plantações de algodão da companhia luso-belga Cotonang, na Baixa de Cassanje, revoltaram-se contra o trabalho escravo, destruindo plantações, pontes e casas. 
A resposta dos colonos portugueses não tardou com o envio da Força Aérea Portuguesa, que bombardeou indiscriminadamente a região, com projécteis napalm, tendo provocado  a morte de milhares de cidadãos.
Os acontecimentos da Baixa do Cassanje aumentaram a consciência de liberdade dos patriotas angolanos que, a 4 de Fevereiro do mesmo ano, resolveram desencadear uma luta armada contra o regime fascista português, culminando com a proclamação da independência do país, a 11 de Novembro de 1975.
A acção de 4 de Janeiro de 1961 pode ser associada ao fim da II Guerra Mundial e à independência de vários países africanos, com destaque para o antigo Congo Belga, actual República Democrática do Congo (RDC), cujo território partilha uma fronteira extensa com Angola.

Estatuto especial

Hoje, 56 anos depois, a data é comemorada a nível nacional e os povos da região da Baixa do Cassanje reclamam um estatuto especial para a região. Falando ao Jornal de Angola, a  autoridade tradicional da Baixa de Cassanje, Cambamba Ngingi ­Kulaxingo, disse que a data deve ser mais comemorada por ser histórica, porque foi o dia que despertou a consciência patriótica e a unidade dos angolanos em prol da liberdade, argumentado que “em cada região do país se registaram revoltas contra a repressão colonial em solidariedade com os camponeses da Baixa de Cassanje.”
A opressão colonial, acrescentou Cambamba Kulaxingo, uniu o povo angolano e a região da Baixa de Cassanje deu início à revolta nacional. “Não morreram apenas povos da Baixa de Cassanje, morreram outros povos devido a esse acontecimento”, disse.
Considerado como o rei da Baixa de Cassanje, Cambamba Kulaxingo pede o regresso do Dia dos Mártires da Repressão Colonial da Baixa de Cassanje na lista dos feriados nacionais e não apenas como data de celebração nacional. A população da Baixa de Cassanje, nas províncias de Malanje e da Lunda Norte, tem esperança na melhoria das suas condições de vida, apesar das dificuldades que enfrenta, afirmou o rei da Baixa de Cassanje, Cambamba Kulaxingo.
Cambamba Kulaxingo informou a existência de grandes quantidades de produtos do campo na posse dos camponeses sem serem escoados para as cidades por falta de meios de transporte. E acrescentou que “a produção do campo tem que ser escoada para não haver perdas enormes.” 
“É preciso que se incremente a reabilitação das vias de comunicação em todos municípios e aldeias, porque, quando chega o tempo chuvoso, existem muitas dificuldades na deslocação”, apelou o soberano.
A responsabilidade para acabar com a pobreza na região, referiu, não é apenas do Governo e apelou aos investidores privados, tanto nacionais como estrangeiros a explorarem as potencialidades da região da Baixa de Cassanje.
Referindo-se ao sector da Educação, a autoridade tradicional congratulou-se com o esforço do Executivo na criação de condições para o bem-estar da população. Em todas as sedes dos municípios e comunas, o Governo construiu escolas, hospitais e sistemas de captação de água para os cidadãos. Quanto a escolas, a autoridade tradicional garante que na região existem do primeiro e segundo ciclos do ensino secundário.
Cambamba Ngingi Kulaxingo afirmou que o Executivo deve trabalhar na criação de condições para implementação de pólos universitários nas sedes municipais, para facilitar o ingresso de estudantes que concluam o segundo ciclo do ensino secundário. “Vai ajudar nas despesas relacionadas com a ­alimentação, roupa e transporte dos estudantes”, disse.
Sobre a atribuição de pensões de reforma aos sobreviventes da repressão colonial, aconselhou que deve ser extensiva a todos os angolanos que tiveram participação directa nos acontecimentos, esclarecendo que existe um programa do Executivo para o enquadramento dos antigos combatentes na Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolas. “Muitos mártires deixaram filhos e netos que são sobreviventes que devem ser enquadrados e beneficiar de subsídios dos seus antepassados”, disse.

Reabilitação das vias

O soba da Baixa de Cassanje mostrou-se satisfeito com os trabalhos de reabilitação da estrada nacional 225, que passa por Xá-Muteba, vila de Cafunfo, no município do Cuango, Caungula até ao Dundo, numa extensão de 540 quilómetros. “É a primeira vez que essa estrada nacional está a ser intervencionada, nunca foi asfaltada desde o período colonial”, frisou. Apesar da satisfação, lamentou o atraso da conclusão das obras, facto que reconhece ser consequência da crise económica que o país atravessa.
Cambamba Kulaxingo disse ainda que, para além dessa obra, se nota também um grande esforço do Executivo na reabilitação da estrada terciária que liga a cidade de Malanje aos municípios de Quela-Kunda dya Base, passando pela comuna do Milando, que serve de ligação com a província da Lunda Norte. “A reabilitação destas duas infra-estruturas rodoviárias vai encurtar a distância entre as duas províncias e vai facilitar os camponeses a escoar os seus produtos do campo para a cidade”, disse.
A região da Baixa de Cassanje compreende os municípios de Quela, Kunda-dya-Base, Marimba, Cahombo, Massango, Kiwaba Nzoji (Malanje) e Xá Muteba, Cuango, Capenda Camulemba, Ula e Lubalo (Lunda Norte), cujos grupos etnolinguísticos predominantes são os caholo, caxingi, bangala, bondista, quitoco, mussuku, dombo, malengue e cassongo.

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