Criada para apoiar o sector da construção e reduzir as necessidades de importação, a Inducarpin garante emprego para muitos jovens e demonstra ser possível atingir altos padrões internacionais de qualidade em conteúdos locais. Todos os dias cresce a procura de produtos desta fábrica que nasceu com a Zona Económica Especial Luanda-Bengo.
Quando o Executivo decidiu incluir o sector florestal no leque de programas dirigidos, no âmbito da estratégia de combate à crise económica e diversificação da economia, sobressaíram duas notas importantes. A primeira é que, não sendo propriamente um bem da cesta básica, o Executivo deu um sinal claro de que apesar da conjuntura económica e financeira difícil quer promover o emprego e a renda das famílias com aposta na exploração de madeira.
A segunda nota tem a ver com a exportação, não já da madeira em toro como vinha acontecendo até pouco tempo atrás, com importantes perdas para a economia nacional, mas sim cerrada ou mesmo transformada, garantindo que além de o país ganhar com a entrada de divisas no sistema financeiro, também ganha com o surgimento de pequenas indústrias responsáveis pelo aumento da oferta de produtos derivados da madeira.
A exportação de madeira em toro resulta de certo modo um prejuízo ao país produtor, que perde a oportunidade de agregar valor a um produto com grande procura internacional e que é cotado no mercado mundial. Na Zona Económica Especial Luanda-Bengo, ao Quilómetro 30 em Viana, é possível termos exemplos de que essa decisão do Executivo angolano não só é pertinente, como capaz de dar resultados positivos na actividade do sector privado.
É o caso da Inducarpin. Como o próprio nome sugere, é uma indústria de carpintaria, localizada numa área que se dedica à produção de equipamentos de mobiliário de carpintaria. Com uma exposição de mobiliário diverso para quartos, salas, cozinhas e construção civil de qualidade, a indústria nacional de carpintaria atrai diariamente gente com diferentes motivações.
Desde o simples curioso que para lá se desloca contagiado pela fama dos pequenos grandes mestres da fábrica de mobília, a homens de negócios com várias propostas, umas mais aliciantes que outras, levando os investidores da Inducarpin a estarem ainda mais confiantes no potencial do seu negócio.
Diversificação
Mas antes de falarmos propriamente dessa indústria, importa fazer uma breve referência ao lugar em que está instalada: a Zona Económica Especial Luanda-Bengo. Recordamos que no âmbito do processo de reconstrução e desenvolvimento do país, e de modo a relançar a economia real e reforçar a capacidade do empresariado nacional para melhoria do nível de desenvolvimento da estrutura e da produção nacional, o Governo decidiu criar Zonas Económicas Especiais. Em bom rigor, trata-se de um modelo de desenvolvimento institucional-administrativo e económico que prevê incentivos ao investimento.
A Inducarpin surge entre as primeiras unidades industriais da ZEE de Viana, no quadro de um programa gizado para reforçar o tecido industrial nacional, aumentar a oferta de emprego para jovens e reduzir a dependência do petróleo. O surgimento das “ZEE”, e no caso da de Viana, com um conjunto de indústrias de apoio principalmente ao sector da construção civil, com cerca de 1400 empregos directos, é demonstrativo de que a crise económica e financeira apenas obrigou a que as autoridades angolanas passassem a abordar de uma forma mais incisiva a questão do combate à dependência do petróleo.
Na mesma altura em que surge a Inducarpin, surgiram outras como a Matelectrica, a Indubos e a Angola Cabos, a Mangotal e a Transplás. Todas surgem num quadro de clara aposta na qualidade e diversidade da produção local. A ideia era ter ali produtos com padrões de qualidade internacionais em conteúdos locais, com o propósito de conquistar cada vez mais espaço no mercado interno, reduzir as importações e chegar a países fronteiriços.
Grandes mestres
No salão de exposições da Inducarpin é possível ficar com uma ideia do que foi e está a ser feito para se atingir os objectivos do investimento. Salta à vista a variedade e a qualidade das peças, que na sua maioria resultam da imaginação e traquejo de jovens que se revelam já grandes mestres apesar do pouco tempo de profissão.
O espaço que está transformado num lugar de romaria, onde pessoas provenientes de vários pontos de Luanda, e não só, têm encontrado solução para todo o tipo de necessidade de mobilar seja uma residência, escritório ou estabelecimento comercial. Cada obra, cada encomenda é recebida como mais um desafio para os mestres da Inducarpin.
Com o conjunto de medidas políticas e legislativas do Executivo foi possível criar-se um cenário com o mínimo de condições para o investimento privado num ramo empresarial que já teve os seus tempos áureos, precisamente quando nas décadas de 80 e 90 importar mobília era considerado um luxo reservado a poucos angolanos.
Fim de um negócio
Com o passar do tempo, houve uma inversão no quadro do sector da carpintaria. A mobília passou a vir principalmente da Namíbia, China e da Europa, num negócio que movimentava largos milhões de dólares.
Vejamos o caso de Andreia Paulo. Durante cerca de 10 anos viveu da venda de mobília. Guangzhou era a região preferida para as suas compras. Hoje vive das rendas de alguns imóveis que conseguiu adquirir com o negócio da venda de mobília.
“Cheguei a trazer 10 contentores de mobília. Eram quartos, salas e por vezes era o jogo de mobília de uma vivenda completa, que trazia por encomenda daqueles bons clientes”, recorda Andreia, que assume que teve muitas dificuldades em aceitar que o negócio que muito lhe rendeu e ajudou a sustentar a sua família e educar os seus filhos deixou de ser o que era.
Ela conta que, apesar de ter um negócio somente seu, não viajava sozinha porque a experiência lhe mostrou que quando se está na terra do outro fica-se mais vulnerável se não tiver alguém a acompanhar. “Primeiro íamos a Guangzhou e muitas de nós éramos conhecidas lá ao ponto de conseguir comprar a crédito ou consignação. Depois abriu Windhoek e com as estradas a mobília vinha mesmo de carro até aos armazéns ou pontos de entrega ao cliente final. Era o princípio do fim do nosso negócio.”
A estimativa é que mais de meio milhão de angolanos, na sua maioria mulheres, dedicava-se ao negócio da importação de mobília da China, Namíbia, Turquia e Europa. Não existem dados sobre o volume do negócio, mas é certo que essa actividade representou durante anos um bom encaixe financeiro para o Estado.
Com a escassez de divisas passou a ser mais difícil importar mobília, além do facto de que com a abertura da via da Namíbia, os preços caíram muito. “Chegou uma altura em que vimos que já não valia a pena, perdia-se muito dinheiro. Depois era o sofrimento de muitas horas de viagem até Guangzhou, às vezes a passar fome e com noites mal dormidas. Já não dava”, remata a empresária.
Geração da mudança
O caso do jovem Icoli Pimentel Bento, técnico responsável pela área da decomposição da melanina na indústria de carpintaria, desperta a admiração pela perícia com que faz o seu trabalho, contrastando com a sua juventude. Mostra-se orgulhoso pelo seu trabalho e destaca que pretende com isso dar o seu contributo para o desenvolvimento do país no que concerne à produção nacional. “Estou pronto para atender ao chamado do país, ali onde as minhas habilidades encontrarem espaço”, diz o jovem.
Icoli Pimentel refere que outrora os móveis vendidos no país eram importados, principalmente da China e Portugal. Hoje, gaba-se, já é possível mobilar uma casa, ou mesmo um escritório, somente com produção nacional e com grande qualidade. Ele não esconde a satisfação por fazer parte desta geração de jovens, considerando a sua entrega em adquirir habilidades e com vontade de, com o seu saber, produzir móveis que vão ao encontro das exigências do mercado.
O resultado final do seu trabalho provoca grande admiração. Explica que a melamina chega à fábrica em estado bruto e é imediatamente sujeito a um processo de tratamento, e depois das medidas brutas é transformado em móveis, como armários e mesas de cozinha, aparadores para sala, raquers, roupeiros, entre outros.
Dominar o mercado
A directora da Inducarpin, Eunice dos Santos Dias, adianta que um dos grandes objectivos da fábrica é a liderança no mercado angolano de mobiliário. Ser uma das maiores na indústria de carpintaria do país é bom, mas Eunice quer mais. A gestora afirma que a empresa investe para aumentar o volume de negócios e atender todo o território nacional.
Ela fez saber que todos os meios estão garantidos para que a Inducarpin seja líder no mercado e já está a ser preparada uma grande estratégia, no quadro de novos desafios, para a exportação das mercadorias. “Neste momento, a fábrica já recebeu a visita de empresários indianos interessados nos seus produtos”, confirma.
Madeira de qualidade
A indústria conta com mais de 80 funcionários, dos quais 16 mulheres (uma expatriada). A fábrica trabalha com matéria-prima nacional, com excepção da melamina. Segundo Artur Soares, todo o produto é de origem nacional, desde a madeira às ferragens que vêm de outras empresas também localizadas na Zona Económica.
Está a ser feito um esforço para que toda a produção seja nacional, incluindo a melamina. Mas é um caminho longo. Artur Soares realça a vantagem que representa o facto de Angola ser um país rico em madeira e além disso haver uma grande variedade. “Só a aquisição de acessórios é que nos tira o sono.”
O Executivo considerou em 2013 “imprescindível” a contribuição dos recursos florestais para a economia do país e das famílias, pelo facto de ser “uma das principais fontes de meios primários de subsistência”.
Angola tem uma superfície florestal estimada em 53 milhões de hectares, o que corresponde a cerca de metade (43 por cento) do território nacional com uma capacidade anual de corte avaliada em 326 mil metros cúbicos de madeira, milhares de toneladas de carvão e lenha.
Artur Soares reconheceu que há procura, mas os indicadores ainda não são satisfatórios, atendendo à necessidade da fábrica expandir-se e criar uma rede de distribuição em todo o território nacional e promover-se em mercados além-fronteiras.
Política de preços justa
Quanto aos preços, o responsável considerou que a fábrica pratica uma política de preços razoável, que se ajusta às orientações do mercado. A ideia é manter-se longe da especulação.
Artur Soares lamentou o facto de muitos cidadãos desconhecerem os produtos da Inducarpin, tendo referido que os mesmos chegam a ter mais qualidade, quando comparados com alguns dos produtos vindos da China.
A qualidade dos produtos da Inducarpin está próxima da linha dos produzidos na Europa. Ele acrescentou que há uma vantagem em comprar os produtos nacionais, porque, ao importarmos, incorremos em riscos desnecessários e, além disso, deixamos de contribuir para o crescimento da economia nacional.
“A nossa aposta é melhorar cada vez mais os nossos produtos para multiplicarmos as vendas, e com isso optimizarmos os preços das mobílias”, disse Soares. Um dos grandes focos da Inducarpin é criar hábitos de trabalho, dar formação aos operários e colaboradores para que se consolidem e ajudem a conquistar o mercado que está nas mãos da China e de outros países.
“Temos matéria-prima, conhecimento e bons artífices, um pessoal muito capaz”, assinala o especialista, visivelmente orgulhoso.
Interessados
Para quem esteja interessado em encomendar mobiliário, Artur Soares explica que basta dirigir-se ao pavilhão da empresa na Zona Económica. Uma vez lá, a pessoa pode pedir o que pretende, e depois de discutidas as medidas e os modelos os técnicos executam a obra na hora.
A Inducarpin trabalha com várias tipologias de madeira, desde a melamina, para móveis pré-fabricados, madeiras maciças africanas, para camas e mesas, linha em que os grandes clientes são os restaurantes.
Energia limpa
Durante a nossa visita à fábrica, Artur Soares explica que para o tratamento da madeira a Inducarpin não usa a energia eléctrica, pois a gestão mobilizou mecanismos para explorar energia renovável, extraída da madeira. Este processo, pioneiro no país, evita a queima de energia. “Tudo é aproveitado a partir dos desperdícios da madeira e transformado em algo fundamental para a continuidade do processamento de corrente eléctrica para as máquinas.”
Com a entrada em vigor do novo Decreto Executivo 169/16, o transporte de madeira inter e intraprovincial deve ser efectuado em condições técnicas de segurança para se evitar vítimas humanas e prejuízos materiais nas vias rodoviárias. A circulação de madeira em toro é admitida apenas dentro das províncias produtoras.
Já o Decreto Executivo Conjunto 199/16 do Ministério do Interior, Agricultura e dos Transportes aprovam os requisitos de segurança para o transporte intra-provincial da madeira em toro e interprovincial da madeira serrada.
As normas do Decreto que entraram em vigor 360 dias após a sua publicação visam garantir condições técnicas de segurança e diminuir as perdas de vida humanas e prejuízos materiais nas vias rodoviárias. O mesmo estabelece que os veículos para transporte de madeira em toro devem ser de carroçaria aberta e possuir taipal dianteiro com largura igual à respectiva caixa de carga, seja ela fixa em chassis-cabina ou em semi-reboque plataforma com uma altura mínima de 50 centímetros.
A madeira serrada deve ser transportada em veículos chassis-cabina com caixa de carga ou semi-reboque abertos com taipal frontal, traseiro e lateral, sendo o taipal frontal com largura igual à respectiva caixa de carga e altura mínima de 50 centímetros.
O Decreto estabelece também que dentro das províncias produtoras haverá circulação das madeiras em toro e fora dela a sua proibição, mas a serrada pode circular fora da província produtora. Com isso, pretende o Executivo em parceria com os investidores, criar novas infra-estruturas, gerar emprego e riqueza nacional.
O continente africano continua a ser o maior exportador de matéria-prima para os outros continentes. Sendo Angola membro da União Africana, assinou a convenção que proíbe a transportação desta matéria-prima e faz parte das resoluções desta organização, bem como no Plano de Desenvolvimento.
JA