AUGUSTO CAMPOS | LUANDA, 14 Dezembro 2015:
Chineses, libaneses, malianos e senegaleses fazem, todos os dias, nas ruas de Angola, transações de milhões de dólares.
pois dos bancos americanos terem fechado a torneira, a ‘mina’ de dólares em dinheiro fresco secou e a economia angolana padece, agora, de uma inesperada ‘gripe’, sem fim à vista, a curto prazo.
O mercado paralelo continua, entretanto, a driblar a crise e os seus agentes esfregam as mãos de contentes, arrecadando lucros astronómicos com a venda, a preços especulativos, da moeda norte-americana.
Cada vez mais asfixiado com a brusca queda do preço do barril de petróleo, o Banco Nacional de Angola (BNA) foi obrigado a reduzir, na primeira semana deste mês, para 66% a injeção de divisas nos bancos comerciais.
E se, à cautela, o governo preferiu não arriscar, na proposta de orçamento para 2016 a previsão da taxa de câmbio continua a subir o número de bancos internacionais que decidiu congelar a sua condição de correspondentes dos bancos angolanos.
E sem dólares para garantir a importação de matérias-primas, algumas empresas como a Refriango e a Cuca foram obrigadas a encerrar diversas linhas de produção mas outras como a EKA, segundo fonte do Ministério da Indústria, podem mesmo vir a encerrar.
Para contornar esta situação, o presidente do banco BIC, Fernando Teles, defende que “Angola deveria importar mais euros, rands sul-africanos e até dólares namibianos”.
Indo mais longe, o economista Victor Hugo acha que “mesmo que venha a ocorrer alguns constrangimentos numa primeira fase”, o recurso “à moeda chinesa poderá ser também uma saída”.
Depois da experiência com a Namíbia, alguns observadores levantam reservas à fiabilidade do acordo que vier a ser assinado com a China.
Os namibianos decidiram recusar receber mais kwanzas e exigem, agora, que Angola transfira dólares para as suas contas contra a acumulação, nos seus cofres, de enormes quantidades de moeda angolana, que “não sabem o que fazer deles”.
“O acordo monetário firmado, neste domínio, entre os dois países, fracassou redondamente”, reconheceu uma fonte do BNA.
A crise de tesouraria agora atinge também os kwanzas e há ministérios que não pagam os ordenados dos funcionários há dois meses. Em muitas cidades do país, em diversos bancos, os angolanos deixaram de poder levantar dinheiro através do sistema multibanco como resultado do entesouramento levado a cabo pela máfia chinesa.
Mas, no meio desta tempestade, em contraste com a redução da oferta dos bancos comerciais, assiste-se a uma continuada e triunfal presença de dólares no incontrolável mercado paralelo.
DONDE VIERAM OS DÓLARES?
Afinal, de onde vem o poder deste mercado para ditar as regras de jogo em torno da moeda norte-americana? Com o mercado empanturrado de dólares em tempos de vacas gordas, chineses e libaneses aproveitaram a bonança para recusar pagamentos por ordem de transferência bancária ou por via de cartões eletrónicos.
“Só aceitavam dinheiro vivo em kwanzas ou dólares”, revelou ao Expresso o empresário de construção civil, Fernando Cardoso.
Com os armazéns abarrotados de kwanzas, chineses e libaneses facilmente compravam dólares a preços duas vezes e meia inferior ao que se pratica hoje no mercado. Dólares que, por portas e travessas, eram retirados, de forma ilícita, de alguns bancos por alguns dos seus funcionários para serem canalizadas para as casas de câmbio ou diretamente para a candonga.
E os garimpeiros de diamantes provenientes da África central e oeste não deixavam também de acumular somas significativas de dólares, que lhes permitem hoje controlar, na rua, o mercado cambial.
Remessas não controladas de dinheiro passaram igualmente a ser enviadas, de forma ilegal, para a China, a partir do aeroporto 4 de Fevereiro. “O porto de Luanda, através dos navios que traziam mercadoria diversa, era também outro corredor por onde vazavam as divisas”, disse uma fonte da capitania do porto.
Hoje, em tempo de penúria, a par dos chineses e libaneses, quem manda no mercado cambial informal são também os comerciantes malianos e senegaleses, que montaram o seu “banco de dólares” a céu aberto, no bairro do Cassenda.
“Aqui são feitas, em poucas horas, diversas transações que, de uma assentada, atingem o milhão de dólares e, o que é estranho, é que a polícia sabe disso mas não intervém...”, revelou ao Expresso Victor Moreira, morador naquele bairro.
Noutro extremo, os angolanos com necessidades de adquirir mercadoria na China, adiantam os kwanzas em Luanda aos chineses e estes, sem qualquer interferência bancária, disponibilizam a moeda chinesa no seu país...
“Nesta senda, estamos a ser todos cúmplices da vergonhosa transformação de Angola numa gigantesca ‘lavandaria’ de dinheiro” — disse o economista Jeremias Silvestre.
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