Matéria de RA
A uma semana de somar seis meses de prisão, Sedrick de Carvalho escreve uma carta aberta à Sociedade Angolana, aos Serviços Prisionais, ao Tribunal Provincial de Luanda, aos Orgãos de Imprensa e à sua Família, onde apresenta os motivos que o levam a negar alimentação e água, visitas, e deslocamentos para fora da cela. Sedrick confirma a sua greve de fome e fala em suicídio.
” (…) proíbo que me tragam alimentação (incluíndo água), pelo que anuncio estar em clara, e efectivamente outra vez,GREVE DE FOME. (…) Ao finalizar, informo que entrei em Paralisação completa, mas caso me decida nos próximos dias, optarei pelo suicídio”.
O activista, acusado com mais 16 cidadãos angolanos de “actos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o presidente José Eduardo dos Santos”, fala de torturas a que o grupo é submetido, afirmando que as mesmas decorrem sob o o olhar atento e condescendente dos magistrados da Justiça nacional.
“Pela permanente tentativa de nos levarem a contrair desequilíbrios mentais, com práticas de torturas milimetricamente orientadas e executadas rigorosamente pelos mesmos que têm a missão legal e humana de cuidar e atestar a nossa sanidade mental; (…) Pela palhaçada que se verifica em pleno julgamento daDitadura contra a Democracia, onde magistrados escondem o rosto mas não a estupidez, onde aprovam e aplaudem as agressões físicas que acontecem no tribunal, ou ainda onde se reconhece que não leram, durante os cinco meses, os livros que para a ditadura é proibido”.
Sedrick apela a todos, mas fala de todos também. No que toca aos abusos e violações dos Direitos Humanos, o activista afirma que todos eles acontecem “perante o olhar e sorriso cúmplice de magistrados judiciais e do Ministério Público, advogados e religiosos, políticos e jornalistas, população e povos”.
O activista, jornalista de profissão, “filho, esposo, pai e irmão”, e aquele que garantia a sustentabilidade económica da sua família, considera o “julgamento da Ditadura contra a Democracia” uma palhaçada, e mostra-se solidário com várias forças de segurança, por as considerar aprisionadas por um “regime que apenas pensa corruptamente e vive do terrorismo social e político”.
“Pelas Liberdades e pela Paz verdadeiras em Angola, África e Mundo”, Sedrick informa que se negará a sair da cela onde se encontra, que recusará qualquer visita – pedindo desculpas à sua família -, que continuará em Greve de Fome e, mesmo reforçando a sua inocência, pede que Januário Domingos o condene, uma vez não acreditar “em decisão contrária em Ditadura”.
O activista diz-se em “paralisação completa”, colocando o suicídio enquanto uma opção.
Hoje inicia-se a quinta semana do julgamento dos 15+2. Depois de muitas irregularidades do processo, tal como o excesso de prisão preventiva, a negação do processo aos advogados, o impedimento de visitas aos activistas e a apresentação de “provas” desconsideradas pela Defesa, entre outras, o julgamento começou no dia 16 de Novembro, cinco meses depois das primeiras detenções (20 de Junho de 2015).
O caso dos activistas, que tem recebido atenção mundial e que tinha, adiantadamente, data de final de julgamento marcada para o dia 20 de Novembro, recebe actualmente a atenção de muita imprensa internacional, já foi analisado no Parlamento Europeu, criticado por diferentes ONG, motivo de envio de várias cartas abertas de pessoas e instituições influentes ao presidente José Eduardo dos Santos, de concertos e vários actos de solidariedade, e contou já com 36 dias de Greve de Fome de Luaty Beirão.
O governo aponta enquanto “ingerências externas” os actos ou opiniões vindas de fora do país e considera, pela voz do seu embaixador-itinerante, Luvualu de Carvalho, “mentiras grosseiras” as acusações da Amnistia Internacional (AI), criticando o alegado impedimento de familiares, jornalistas e observadores no tribunal onde decorre o julgamento dos 17 activistas acusados de prepararem uma rebelião.
Os jornalistas podem assistir ao julgamento numa sala ao lado da do mesmo, por uma televisão que nem sempre é acompanhada de um áudio de qualidade, não podendo, no entanto, levar qualquer material consigo (telemóveis, computadores, máquina fotográfica, etc.), para além de um bloco de notas. Familiares e activistas reclamam da sala de audiência dar lugar a tantos oficiais de segurança e não permitir a entrada a mais familiares e sociedade civil.