AUGUSTO CAMPOS | LUANDA, 20 Agosto 2015:
DR / RA
Pela segunda vez neste mês, o grupo das mães, irmãs e esposas dos 15 presos políticos vão protestar a fim de exigir a libertação dos seus familiares, detidos desde Junho sob a acusação de tentativa de golpe de Estado.
Ontem, o grupo enviou uma carta ao Governo Provincial de Luanda (GPL), informando sobre a intenção de realizar uma manifestação e vigília, no dia 28 de Agosto, data de aniversário do presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Em declarações ao Maka Angola, os familiares dos presos políticos explicam que a iniciativa resulta “do espírito de solidariedade para com os seus filhos, esposos, irmãos, parentes e amigos” e que pretendem “manifestar o seu sentimento de inconsolável tristeza e vazio”.
A concentração está prevista para as 15h, no Largo da Independência. Na carta enviada ao GPL, o grupo informa que pretende passar pelo Largo da Sagrada Família e chegar ao Largo da Maianga, onde terá lugar a vigília.
“Por forma a garantir que a manifestação decorra de forma ordeira e de acordo com os princípios da ordem pública e do respeito pelos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos que nela participarem”, que “se digne ordenar que as forças policiais da província garantam a protecção da referida manifestação”, solicitam na carta.
É de recordar que no dia 8 o mesmo grupo tentou realizar uma marcha pacífica de apelo à libertação dos presos políticos, que foi reprimida pelas forças policiais após receberem ordens de “espanquem, comecem a bater”.
A marcha, primeiramente aprovada pelo GPL, foi depois “desautorizada”, numa carta datada de 4 de Agosto, onde o governador Graciano Domingos utiliza o percurso como motivo para impedir a manifestação.
“Decidimos fazer a marcha no dia do aniversário do presidente para se ver como ele está feliz com o sofrimento que causa ao seu próprio povo, em particular os 15 presos políticos que ele mantém na cadeia”, disse ao Maka Angola, Henriqueta Diogo, esposa do preso político Benedito Jeremias, também signatária da carta.
Na publicação, Henriqueta Diogo denuncia ainda que o seu marido tem sido interrogado várias vezes pelos agentes do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e da Procuradoria Geral da República (PGR) sobre como conheceu o preso Domingos da Cruz e “por que é seu amigo”. “O Benedito tem respondido que é livre de escolher os seus amigos. Têm-lhe perguntado também se sabia sobre o golpe de Estado que o Domingos da Cruz supostamente estava a preparar contra o presidente José Eduardo dos Santos”, enfatiza.
Por sua vez, Esperança Gonga, esposa do preso político Domingos da Cruz, mostra-se decidida: “Todos temos medo, mas não recuaremos. Vale a pena perdermos o medo. Já sofremos com a brutalidade policial. Sabemos que o governo não tem vergonha em mandar espancar mulheres indefesas, mas também eles saberão que não recuaremos”.
Pressão psicológica
Numa outra denúncia, a mãe do preso político Benedito Jeremias afirma que seu filho escrevera ao procurador do seu processo a solicitar que lhe permitissem interagir com os outros detidos, em particular Hitler Jessia Chiconda, outro preso político que se encontra naquela cadeia. O pedido, segundo o MA, foi aceite pelo procurador e a directora do estabelecimento prisional, mas, entretanto, não foi atendido.
“O sector de reeducação decidiu castigá-lo por ter escrito a carta e não permitiu que a família tivesse acesso a uma cópia. A minha sogra caiu, rebolou, pôs-se a chorar, e teve um ataque. A própria polícia teve de lhe prestar assistência. Ela só queria ver o filho. Não sabemos os castigos que lhes estão a ser aplicados”, lamenta Deolinda Luís que inclusive, no dia 8 de Agosto, foi uma das mães agredidas por agentes da Polícia Nacional, tendo a mão direita mordida por um cão da corporação.
A Procuradoria-geral da República confirma as detenções de Afonso Matias “Mbanza Hamza”, Albano Bingobingo, Arante Kivuvu, Benedito Jeremias, Domingos da Cruz, Fernando Tomás “Nicola Radical”, Hitler Jessia Chiconda “Hitler Samussuku”, Inocêncio Brito “Drux”, José Hata “Cheik Hata”, Luaty Beirão, Nelson Dibango, Nito Alves, Nuno Álvaro Dala, Osvaldo Caholo e Sedrick de Carvalho. Vale ressaltar que o capitão Zenóbio Zumba, detido posteriormente por suposta amizade com Osvaldo Caholo, é o prisioneiro político número 16, mas a PGR até ao momento não confirmou a detenção.
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