sexta-feira, 31 de julho de 2015

ZIMBABUÉ QUER EXTRADIÇÃO DE DENTISTA QUE MATOU LEÃO MAIS FAMOSO DO PAÍS



AUGUSTO CAMPOS | LUANDA, 31 Julho 2015:
DR / PÚBLICO

O Zimbabwe pediu a extradição do caçador norte-americano que matou, alegadamente de forma ilegal, o mais famoso leão do país, Cecil, que vivia num parque natural.

Walter Palmer, um dentista do estado do Minnesota, terá pago quase 50 mil euros para caçar um leão no Zimbabwe. Mas acabou por alvejar Cecil, depois do animal ter sido atraído para fora do Parque Natural de Hwange, a 800 quilómetros da capital Harare. As autoridades argumentam que o caçador e outras pessoas envolvidas no episódio não tinham licença para abater um leão.

“Pedimos às autoridades competentes a sua extradição para o Zimbabwe, para que possa ser julgado pelas infracções que cometeu”, disse a ministra do Ambiente do país, Oppah Muchinguri, numa conferência de imprensa, esta sexta-feira. “Infelizmente, já era tarde para deter o caçador estrangeiro, porque ele já tinha fugido para o seu país de origem”, completou Muchinguri.

Os Estados Unidos e o Zimbabwe têm um acordo que prevê a extradição de pessoas acusadas de crimes puníveis com mais de um ano de prisão em ambos os países.

As autoridades norte-americanas, em particular o Departamento de Pescas e da Natureza – que gere todos os assuntos relacionados com a caça –, estão a cooperar com o Zimbabwe. Mas não se sabe ainda em que termos Walter Palmer poderá ser enquadrado no acordo de extradição. O dentista não terá tentado trazer o “troféu” de caça, normalmente a cabeça ou a pele do animal, segundo o jornal Star Tribune, do Minnesota. E o leão africano não está abrangido pela legislação norte-americana sobre espécies ameaçadas. Se a justiça do Zimbabwe o acusar de corrupção, o acordo poderá eventualmente ser invocado.

A justiça do Zimbabwe já acusou formalmente um caçador profissional, Theo Bronkhorst, que actuou como guia de Palmer. Um tribunal de Hwange imputou a Bronkhorst, na quarta-feira, o facto de não ter evitado uma caçada ilegal, um crime passível de uma pena de dez anos de prisão. Honest Ndlovu, o dono da herdade onde tudo aconteceu, também foi ouvido pela justiça e regressará ao tribunal no princípio de Agosto.

Cecil, um leão com 13 anos, era a atracção principal do Parque Natural de Hwange. Era conhecido pela sua juba escura e por se aproximar calmamente dos turistas. Tinha uma coleira com equipamento GPS no pescoço, sendo monitorizado por cientistas da Universidade de Oxford.

Terá sido morto no dia 1 de Julho. Foi avistado à noite, aparentemente dentro do Parque Natural de Hwange, no Oeste do Zimbabwe. Com um animal morto atado a uma carrinha, Palmer e os caçadores que lhe serviram de guias atraíram o leão para fora do parque, segundo Johnny Rodrigues, da Zimbabwe Conservation Task Force, uma organização criada em 2001 para patrulhar a caça ilegal nos parques naturais do país.

Palmer atingiu-o com arco e flecha, a arma de eleição com que o dentista pratica a caça a grandes animais. Ferido, o leão vagueou durante quase dois dias, até ser novamente encontrado pelos caçadores. Morreu finalmente com um tiro.

Na terça-feira, o dentista divulgou um comunicado lamentando o ocorrido. “Contratei vários guias profissionais e eles asseguraram todas as licenças necessárias. Tanto quanto sei, tudo relacionado com esta viagem foi legal e conduzido de forma adequada”, escreveu.

O dentista disse que, até ao fim da caçada, “não fazia ideia” de que o leão era conhecido e que trazia uma coleira. “Confiei na experiência dos meus guias profissionais locais para garantir uma caçada legal”, argumentou. “Lamento profundamente que a busca de uma actividade que eu adoro e pratico de forma responsável tenha conduzido à morte deste leão”, completou Palmer.

O caso motivou uma enorme onda de contestação. O dentista está em parte desconhecida e a sua clínica, em Bloomington, está encerrada.

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