segunda-feira, 15 de junho de 2015

CLUB FERROVIÁRIO DE LUANDA COMPLETA 100 ANOS


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AUGUSTO CAMPOS | LUANDA, 15 Junho 2015:

À entrada da sede, cada vez mais renovada, são visíveis os marcos da glória do clube pelos muitos troféus que engalanam o hall de entrada.  No primeiro piso a galeria alberga cerca de 500 troféus conquistados por atletas de todos os escalões e todas as modalidades.

O Ferroviário de Angola tem pinta de papão do desporto. Fica difícil indicar uma modalidade em que seus fazedores não tenham atingido os píncaros da glória usando as cores deste gigante.







Uma observação mais atenta permite perceber que o tempo passou pelo Ferroviário de Angola e se sobram dúvidas, os traços do tempo podem ser confirmados na quantidade de troféus carcomidos pelo tempo.

Na galeria se preserva, mas também se perde a história de um gigante do desporto angolano. Desta história se alicerça a vontade da nova vaga de dirigentes do clube que o querem fazer ressurgir. É na verdade a locomotiva que está a anunciar a sua chegada.

O Clube Ferroviário de Angola tem carris para andar. As suas infra-estruturas localizadas na zona do Bungo, baixa da cidade de Luanda, vão ser os carris por onde vai circular a locomotiva campeã que numa primeira fase vai apostar na formação. A propósito, já começou a reabilitação das infra-estruturas. O campo polivalente ganha cobertura e piso novo, enquanto o edifício central da sede também é alvo de obras para melhoria do seu aspecto.





É uma agremiação que sabe o que é vencer um campeonato. Aliás, foi das primeiras a conhecer o gosto que tem ser campeão, tanto na período colonial como no pós independência. Estão ainda vivos factos como a conquista do primeiro campeonato nacional sénior masculino de basquetebol, com uma equipa que lançou para a arena desportiva nacional nomes como Manuel Silva "Gi", Anibal Mendonça, Paulo Madeira, Josué Campos, Hélder Cruz e Gil Almeida que ergueram o troféu sob batuta de Wlademiro Romero.

A saga do Ferroviário de Angola estendeu-se também pelo andebol feminino de seniores  depois de conquistar o primeiro título nacional em 1979, ergueu, de forma inédita, o título da taça dos clubes campeões de andebol em 1987. Nesta gesta participaram atletas como Elisa Weba, Palmira Berbosa, Bernardeth Sá, Ana Balbina, Carla Silva, Ana Beatriz, Fábia Raposo, Cesaltina Ceita, Manuela Silva, Line Campos, Tininha, entre outras. O treinador deste grupo de atletas foi Pina de Almeida.

No futebol o Ferroviário produziu vultos como Justino Fernandes, Carlos Alberto, Sílvio Vinhas, Júlio Bessa. No atletismo José Van-dúnem, Mário Pinto de Andrade,  Eufrazina Maiato e António Andrade foram os atletas que se destacaram. A fazer fé nas vontades manifestadas pelos agentes ligados ao clube, novos ventos hão de soprar a partir da estação do Bungo.


MÉRITO
Gala distingue figuras

Os antigos atletas, dirigentes, técnicos e funcionários administrativos que se notabilizaram ao serviço do Clube Ferroviário de Angola vão ser hoje homenageados pela direcção da agremiação, principal evento da quadra festiva alusiva aos seus cem anos. O Ferroviário de Angola foi fundado a 13 de Junho de 1915.

As distinções são feitas por modalidades, sendo seleccionados para cada uma cinco nomes.

Além das modalidades desportivas são também homenageadas figuras que estiveram ligadas aos serviços administrativos, direcções e outros.
Júlio Bessa, Carlos Alberto, Manuela Silva, Manuela Soito, Palmira Barbosa, António Andrade, Monteiro, Sílvio Vinhas, Elisa Webba são alguns nomes que podem ser homenageados na gala dos cem anos do clube.

As festividades do centenário foram lançadas a 7 de Maio em conferência de imprensa e além de encontros da família ferroviária, contemplaram a realização de palestras e disputa de vários torneios.

Vários torneios foram disputados nos escalões de juvenis de andebol, futebol, futsal, xadrez e hoje disputa-se a prova de estrada em atletismo.

A provas de andebol foram dominadas pelas equipas do 1º de Agosto, nas duas classes, e contaram com participações das equipas da Casa do Pessoal do Porto do Lobito, Maculusso, Ferroviário, Banca e Visa.

No futebol de 11 venceu igualmente a equipa juvenil do 1º de Agosto e contou também com a participação das equipas do Ferroviário e Rodoviário. O Banco Sol venceu o torneio de futsal, em seniores, que contou com a presença do Ferroviário, Caminho-de-Ferro de Luanda e da Unicargas.

Uma prova de xadrez também foi disputada, que contou com a participação das equipas do Ferrovia, Progresso, 1º de Agosto e Escola Macovi. Os vencedores dos torneios recebem galardões hoje à tarde, após a assinatura do protocolo de cooperação entre o Ferroviário de Luanda e a petrolífera Total.
S.C


Viabilidade do clube
Bráulio de Brito assume desafio

- O que são estes cem anos de Clube Ferroviário de Angola para vocês?
Os 100 anos têm um significado especial porque marcam o renascer do Ferrovia. Como sabemos este clube sempre foi um monstro do desporto nacional quer em termos de formação, de títulos ou mística desportiva. Por várias circunstâncias ele foi decaindo, perdendo à medida que outros clubes apareceram com maior atractividade. Estamos aqui para relançar esta áurea e efectivar o clube, fazer ser o Ferrovia. Isto inclui relançar as  modalidades desportivas, ter o nome do Ferrovia na ribalta do desporto quer seja na formação ou competição.

- Fala em competição, há, para já, grandes objectivos?

Não estamos a pensar ainda em seniores mas nós, por exemplo, no ano passado, em andebol juniores masculino e feminino fomos às meias-finais dos campeonatos nacionais. Começa-se a lançar, vamos abrir o xadrez, o voleibol, o mini basquetebol, etc.

- Com que força conta para esta empreitada do relançamento do clube?
Quem vai abrir isso são as velhas glórias do clube que cresceram aqui, jogaram aqui eles é que vão novamente entregar-se ao clube para virem relançar as modalidades e ver o clube a ter vida. Esta é a nossa visão. Este movimento iniciou o clube esteve num marasmo. A campanha de angariamento de sócios iniciou, temos sócios a virem o movimento que temos realizado aqui com a família Ferrovia está a gerar curiosidade, as pessoas perguntam o que se passa e notam que o clube está a recomeçar!
"Estamos a procurar um patrocinador oficial"
- Vocês estão também a chamar o empresariado, patrocinadores para suportarem toda esta ambição de reerguer o clube.
Temos neste momento alguns cooperadores. Rentabilizamos o restaurante do clube, há instituições que facilitam uma avença mensal aos quais permitimos a utilização de espaços do clube. Estamos também a trabalhar essencialmente com empresas do ramo dos transportes, porque queremos consolidar patrocínios. temos uma colaboração com o Conselho nacional de Carregadores, estamos a realinhar a cooperação com o Porto de Luanda.

- Fala-se do projecto Casa Bungo o que é?

Vamos assinar um protocolo com a Total no dia 13, para efectivar a "Casa Bungo" que será um espaço com disponibilidade de internet, teremos professores para apoiarem jovens estudantes, quer sejam atletas ou não. Teremos também uma injecção de capital para a formação dos treinadores, compra de equipamentos e outro materiais específicos associados à prática desportiva e académica dos nossos atletas e jovens que vivem aqui das proximidades das nossas instalações.

- Vocês já encontraram um patrocinador oficial?
Não temos ainda um patrocinador oficial como tal, realmente é algo que está em carteira, continuamos a nossa busca por alguém que decida ser o patrocinador oficial.

- Qual é a ligação entre o clube e os Caminhos de Ferro de Luanda?
A ligação é uma ligação histórica porque quando o Clube Ferroviário de Angola foi criado foi como uma instituição sócio desportiva para os trabalhadores dos caminhos de ferro, porto e da antiga DTA. Se repararem o logo do clube é uma locomotiva com asas para abranger todos os tipos de transportes. Com o tempo a DTA separou-se e passou a ser autónomo e deu origem ao ASA. Hoje não temos este vínculo formal em termos de patrocínio, ainda.

- Que dizer em relação ao património do clube, foi também afectado pela letargia que o clube viveu, têm algum litígios por usurpação do património?
- Não temos litígio nenhum. Houve ocupações mas feitas dentro de um quadro legal. Aquelas instituições que ocuparam espaços pertencentes ao clube pagam as respectivas rendas. Temos, por exemplo, a Angola Telecom e o Banco Sol que pagam as respectivas rendas.


Em alusão aoS 100 ANOS do Clube
Lendários do clube recordam feitos (1)

Os antigos atletas e amigos, que passaram pelo histórico Clube Ferroviário de Angola, juntaram-se quinta-feira na sede da instituição desportiva para um reencontro no quadro comemorativo dos cem (100) anos de existência.  Fundado a 13 de Junho de 1915, o Clube Ferroviário de Angola reuniu durante três horas, várias figuras desportivas entre eles técnicos e atletas das mais variadas modalidades, que marcaram o bom nome do clube ao longo do século passado. Os presentes, na maioria de idade avançada, prestaram atenção particular ao presidente de direcção, Bráulio de Brito, que pediu a colaboração a todos os níveis, de forma a resgatar a mística do clube. Na ocasião, o Jornal dos Desportos foi à conversa com alguns dos presentes.

Desidério Costa
(Amigo do clube)

Não pratiquei modalidade nenhuma no clube, mas o Ferrovia tem história. Aliás, eu sou da geração do  Clube de Instrução Recreios do Ferroviário, isto ainda nos anos 40. Valeu-nos apenas fazer parte desta história. O Clube Ferroviário de Angola faz parte da minha vida, o meu pai foi um dos funcionários dos Caminhos de Ferro, desde o início da linha férrea, Luanda- Malanje. Foi o primeiro angolano (negro)a assumir cargo de chefia da selecção. Portanto, sendo o meu pai dos Caminhos de Ferro eu só podia ser do Ferrovia.  Tive depois de mudar para o 1º de Agosto, porque infelizmente, depois da independência o Ferrovia na área do futebol teve dificuldades de se impor.  Para aqueles que são mais velhos, recordam-se de grandes jogadores do clube, como o Germano irmão do Vicente, Henriques Castendo Guia Costa (já falecido), guarda - redes como o Ramalhoso e muitos outros. Não vou dizer muito porque, só o facto de estar emocionado quer dizer que o Ferrovia está vivo”.

Eva Almeida "Carocha"
(Ex-praticante de Andebol)

“Enquanto desportista do Clube Ferroviário de Angola, foram vários os momentos marcantes de vitórias na minha carreira,  que  terminei no ano de 1982. Recordo-me, que jogava como pivot e dava o melhor de mim, para alcançarmos as vitórias. Na minha época, lembro-me que jogava com a Ana Paula dos Santos, a Palmira Barbosa, a Bininha, Bibia, a Bida e a Bela Jaime (ambas guarda - redes), Lurdes Pereira e também a Linda”.

Maria Luísa Martins "Milu"
(Ex-praticante de Andebol)

“São tantos os momentos marcantes, que guardo com alguma nostalgia. Posso dizer, que faço parte das pioneiras do andebol angolano no pós-independência, juntamente com a Cami, Palmira, Balbina, a São, a Van- Dúnem e Celeste. Fomos mesmo as carolas do andebol. Vínhamos, treinávamos e muitas vezes voltávamos a pé e posso dizer, que fazíamos mesmo tudo por amor à camisola, porque considerávamos o Clube Ferroviário de Angola à nossa segunda casa. Aproveito o momento para destacar o grande papel desempenhado pelo casal Almeida, Senhor Francisco e sua esposa, pois eram como se fossem, os nossos pais. Acompanhavam-nos em tudo, desde o rendimento desportivo, académico e até mesmo familiar. Felizmente o Ferrovia era uma equipa ganhadora. Isto foi durante os anos que aqui estivemos, e estas conquistas eram tanto a nível provincial como nacional”.

Julieta Lemos Ferreira
(Ex-praticante de Andebol)

A vitória da primeira Taça provincial foi o momento marcante, isto no ano de 1979. No ano seguinte, conquistamos o nacional, no Huambo. E bem como disse a Milu fomos sim, as pioneiras do andebol após a independência. Chegamos à esta casa através do Pina de Almeida que era nosso treinador na Escola Industrial, em número considerado de 70 por cento de atletas do andebol feminino. O outro grupo foi para o Sporting de Luanda. Apesar das grandes dificuldades que passávamos, ainda assim, o empenho e dedicação da família Almeida no que toca  à criação de condições dava para ajustar o plano de treinos. Vínhamos para o Ferrovia como podíamos. Recordo-me  que não havia exigências. Na altura, éramos atletas federadas e a pratica do desporto era simplesmente por amor e não por dinheiro. Até que o clube conseguiu um mini - autocarro que era conduzido pelo senhor Monteiro que ia buscar-nos e no final dos treinos, levava-nos para casa.   

Minguito dos Comandos
(Ex-praticante de Atletismo)

O salto em altura e salto à vara foram os grandes momentos marcantes, pois tive uma classificação a desejar pelo equipa técnica de atletismo,  com apenas 16 anos de idade. Hoje, estou com 68.
E desta marca do salto em altura nunca me esqueço, porque o outro adversário era um amigo meu, o Benje que acredito estar a viver em Portugal. Pelo Ferrovia trago também lembranças do futebol, fui vencedor da “Taça Salazar” e campeões de juniores. Em palavras muito simples tenho apenas a dizer que trago muitas recordações das vivências do Clube Ferroviário".

Ângelo Numes
(Ex-praticante de Atletismo)

Entrei para esta casa em 1959, na altura com 12 anos. Este clube deu-me tudo, ou melhor, fez-me o homem que sou hoje. Teve aqui pessoas que fizeram muito, muito por mim. Nos anos 60 fui considerado uma das promessas do atletismo português, numa reportagem feita pelo então jornalista, Rebelo Carvalheira do antigo diário “A província de Angola” na altura estava em véspera de eu ir para o Sport Lisboa e Benfica.  Anos mais tarde, exerci a função de treinador de atletismo no clube, tendo treinado atletas como Carlos Cabral, António Andrade, Filomena Maurício, Marta Jaime entre outros”. 
 
Original: Hermínio Fontes | JD
 
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