AUGUSTO CAMPOS, LUANDA, 06 Novembro 2014: O partido do presidente Barack Obama acordou ontem para uma tremenda sensação de ressaca, e a dor de cabeça só crescia à medida que as horas deixavam mais claros os contornos e as consequências políticas da série de derrotas que sofreram na noite anterior. Em número como em grau, as perdas foram mais longe que o cenário que os democratas já receavam. Os republicanos, por sua vez, tinham a conquista total do Congresso para celebrar, tendo não só assegurado a maioria no Senado como reforçado aquela que já detinham na Câmara dos Representantes. É preciso recuar à década de 1940 para recordar a última vez que os republicanos tiveram uma maioria tão expressiva na câmara baixa. As eleições intercalares desta terça-feira reverteram assim num decisivo impulso em preparação para a disputa das presidenciais de 2016.
Os
republicanos puxaram pelo menos sete cadeiras aos democratas, mas a sua
vitória estendeu-se à maioria das corridas aos lugares de 36
governadores, com desempenhos notáveis em alguns bastiões democratas,
incluindo os estados do Massachusetts, do Maryland e do Illinois. Foi
uma noite que muito poucos aspectos positivos conseguiu reunir para
consolo dos democratas, e é sobretudo Obama quem recebe um golpe
duríssimo, que terá extinguido o que restava da sua popularidade.
Obama,
que já tinha sido posto à margem da campanha, tendo sido chamado a
participar em apenas sete comícios - por comparação, Bill Clinton
apareceu em 47, parte deles ao lado da mulher, Hillary, a provável
candidata democrata às presidenciais -, prepara-se agora para atravessar
os seus dois últimos anos na Casa Branca de castigo, com os adversários
a usarem ambos os ramos do Congresso para tirar todos os dividendos
possíveis de um chefe de Estado que em muitos aspectos está agora de
mãos atadas. Com a relação de forças em Washington alterada, agora todos
os cenários são possíveis, de uma paralisação total a uma nova era de
concessões e acordos entre rivais (ver texto ao lado). Obama convocou
entretanto uma reunião com os líderes republicanos e democratas de ambas
as câmaras do Congresso para amanhã.A extensão da derrota foi de tal
modo acentuada que quem agora também encontra motivos de preocupação é
Hillary. O casal Clinton correu o país em apoio a vários candidatos
senatoriais do partido que vieram a perder por margens muito
significativas. Depois de ter perdido as primárias para Obama, é cada
vez menos provável que a seguir ao presidente negro os democratas
consigam agora eleger pela primeira vez uma mulher para o lugar.
Às
primeiras horas do dia, os republicanos já somavam 52 assentos na
câmara alta, o que colocava Mitch McConnell - que ultrapassou
tranquilamente o seu opositor no seu estado natal, o Kentucky - como
novo líder da maioria no Senado. "A mensagem dos eleitores é clara: eles
querem-nos a trabalhar juntos", afirmou Harry Reid em comunicado pouco
depois de ver confirmada a sua demoção para líder da minoria democrata.
"Estou ansioso por trabalhar com o senador McConnell com vista a pôr as
coisas a andar para a classe média."
Os
democratas perderam assentos nos estados de West Virginia, Montana,
Dakota do Sul, Arkansas, Colorado, Iowa e, o mais surpreendente, na
Carolina do Norte, onde estavam seguros de que o senador Kay Hagan não
teria dificuldade em segurar de novo o lugar. No sentido oposto, os
republicanos seguraram todos os lugares que tinham para defender,
incluindo nas mais acirradas disputas, como era o caso da Geórgia e do
Kansas. Já no Louisiana a corrida foi estendida a uma segunda volta, que
terá lugar no próximo mês. Neste caso, os republicanos não deverão ter
dificuldade em prevalecer, uma vez que o seu candidato, Bill Cassidy,
deverá receber a maioria dos votos que lhe foram retirados nesta
terça-feira por outro candidato republicano, Rob Maness, que obteve 14%
dos votos.E é assim que uma batalha eleitoral que, segundo o "New York
Times" começou como uma guerra de trincheiras, estado a estado e
distrito a distrito, veio a revelar-se uma vitória histórica para os
republicanos. O êxito da campanha passou por transformar as intercalares
numa espécie de sondagem ao desempenho de Obama nestes dois anos do
segundo mandato. O carácter desigual, mais lento que o esperado em
termos da recuperação económica, serviu de catalisador a uma sensação de
ansiedade ou mesmo desilusão, levando os eleitores a responder com um
voto de protesto, especialmente nos estados do Sul e do Oeste, onde a
polarização política se aprofundou.
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