AUGUSTO CAMPOS, LUANDA, 09 Outubro 2014: Uma norte-americana, em fase terminal, escolheu a data da sua morte. Brittany Maynard escolheu o dia 1 de Novembro para terminar com a sua vida. Com um cancro cerebral terminal, Maynard diz sentir-se aliviada por não ter de passar pelo sofrimento de lidar com a doença.“Não consigo sequer descrever o alívio que sinto ao saber que não terei de morrer da forma como me foi descrita”, diz num vídeo publicado no site que criou para a campanha "The Brittany Fund".A jovem e o marido são da Califórnia, mas mudaram-se para Oregon pelo facto de este Estado permitir aos doentes terminais porem termo à sua vida com medicamentos letais prescritos pelo médico. Apenas cinco Estados norte- americanos possuem leis que permitem aos pacientes decidir como querem terminar com a sua vida.
Brittany e o marido, em foto no dia do casamento
– Eu espero aproveitar os dias que eu ainda tenho neste planeta lindo
cercada por aqueles que eu amo. Espero morrer em paz. A razão para
considerar e o seu valor é ter certeza de que você não a está
desperdiçando. Aproveite o dia. Esqueça o resto – diz Brittany, em um
vídeo divulgado neste domingo, dia do lançamento do projeto.
Como a questão é vista por aqui
No Brasil, a eutanásia é ilegal e considerada antiética pelo código
de medicina, explica Rachel Duarte Moritz, médica e professora do
Departamento de Clínica Médica da Universidade Federal de Santa
Catarina. Porém, diz a professora, a ortotanásia é aceita.
A ortotanásia consiste em tratar os sintomas de uma doença – ainda que ela seja terminal – para melhorar a qualidade de vida.
– A ortotanásia seria deixar morrer, enquanto a eutanásia seria fazer morrer – explica a médica, que tem artigos publicados sobre o assunto.
Por aqui, os avanços mais recentes em relação à "morte com dignidade"
– para usar a expressão preferida de Brittany Maynard – são a Lei
Estadual 10;241, de 1999, conhecida como Lei Mário Covas,
que permite aos paulistas "recusar tratamentos dolorosos ou
extraordinários para tentar prolongar a vida" e "optar pelo local de
morte".
Rachel cita ainda uma resolução do Conselho Federal de Medicina, de
2006, segundo a qual "é permitido ao médico limitar ou suspender
procedimentos e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase
terminal, de enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da
pessoa ou de seu representante legal".
Logo após se casar, a norte-americana Britanny Maynard
começou a sentir fortes dores de cabeça. O que era apenas um
desconforto tornou-se insuportável, e fez com que a jovem procurasse
médicos. Em 1º de janeiro de 2014, ela recebeu o diagnóstico: tinha câncer cerebral terminal, o que lhe dava 10 anos de vida, no máximo. Pouco tempo depois, os médicos reduziram a expectativa: Brittany não teria mais do que seis meses de vida – e sua morte viria com sofrimento e dores ainda maiores.