AUGUSTO CAMPOS | LUANDA, 03 Outubro 2014: O Instituto Nacional de Bolsas de Estudos (Inabe) vai obrigar os estudantes angolanos na Ucrânia, bolseiros e não bolseiros, a irem para Rússia por causa do clima de insegurança que se regista naquele país. E deixou a ameaça para aqueles que não concordarem: aos bolseiros, o Estado angolano vai exigir o dinheiro das bolsas com juros; aos outros, não quer saber o que lhes venha a acontecer.
A decisão é rejeitada pelos estudantes, que afirmam não terem sido
ouvidos pelos representantes do Inabe, no entanto, o instituto já tem
tudo assinado com o governo russo para a transferência dos alunos
angolanos da Ucrânia para a Rússia.
Segundo o website badtv7online, os dirigentes do Inabe em
Ivano-Frankivisk, no oeste da Ucrânia, reuniram-se recentemente com os
estudantes angolanos. Na ocasião, o director, Moíses Kafala Neto,
informou que a transferência para a Rússia iria ser feita no prazo de
três semanas, isto é, até ao final do mês de Junho.
Apesar da grande maioria dos estudantes terem rejeitado a mudança,
Moisés Kafala deixou bem claro que todos são obrigados a partir dentro
do prazo estipulado, sujeitando-se quem não cumprir a ordem a perder a
sua bolsa e a ter de pagar com juros todo o dinheiro investido na sua
educação pelo Estado angolano.
Em relação aos estudantes por conta própria, serão também
transferidos, apesar de estarem a pagar do próprio bolso a sua educação.
Caso não aceitem a mudança para a Rússia, Moisés Kafala afirmou que o
governo irá “limpar daí as mãos”, não se responsabilizando por qualquer
problema que estes venham a ter.
A situação deixou os estudantes indignados, porque em nenhum momento
lhes foi pedida a opinião sobre uma decisão que afecta as suas vidas e a
sua formação.
“Nós estamos bem aqui, e não pedimos ajuda ao governo para que nos
evacuasse da Ucrânia, uma vez que a situação encontra-se calma e os
conflitos estão concentrados só em duas regiões, por enquanto, que são
Donetsk e Lugansk”, disseram os estudantes, citados pelo site ucraniano.
O ex-presidente da comunidade angolana em Lviv, António Mabiala,
salientou que transferir todos os estudantes para a Rússia é uma decisão
precipitada, que deveria haver evacuação de Donetsk e Lugansk, que são
as regiões onde há conflitos neste momento.
Além disso, há estudantes angolanos que estão na Ucrânia ao abrigo de
bolsas de cooperação que são pagas pelo Estado ucraniano, como fica a
situação desses estudantes?
“Os elementos da embaixada de Angola na Rússia terão um contacto
oficial com os ministérios da educação e de segurança interna da
Ucrânia, afim de informar deste processo de evacuação dos estudantes
para Rússia, visto que existem aqui estudantes com bolsas de
cooperação”, pergunta Mabiala.
Finalmente, e essa é uma questão essencial para a sobrevivência dos
bolseiros e não bolseiros, alguém teve em conta a diferença de custo de
vida?
António Mabiala não percebe como é que os estudantes, com as suas
actuais bolsas, vão pagar estudos, casa e comida numa cidade como
Moscovo, que é uma das mais caras do mundo: “É sete vezes mais cara que
qualquer cidade na Ucrânia”.
RA
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