AUGUSTO CAMPOS | LUANDA, 09 Julho 2014: O Brasil tem muitos jogos memoráveis no seu historial. Houve alguns
que deram títulos, mas havia um mais evocado que outros para recordar
memórias traumáticas, o famoso Maracanazo, aquele em que o Uruguai
roubou a Copa aos homens da casa, em 1950. Sessenta e quatro anos
depois, o Brasil sofreu mais uma derrota dolorosa em casa, que, se se
for pela mesma lógica, ficará para a história como Mineirazo. No
Mineirão, em Belo Horizonte, a selecção da casa caiu do seu Mundial com
estrondo face à Alemanha, que triunfou por impensáveis 7-1, um resultado
feito antes da meia hora de jogo. Uma demonstração de absoluta e
inequívoca superioridade germânica, uma prova de que a crença brasileira
instigada por Scolari não dava para mais.
Em confronto estavam duas das melhores selecções da
história, com oito títulos entre elas, mas, em Mundiais, apenas se
tinham defrontado uma vez, na final do Mundial 2002, em que dois golos
de Ronaldo deram o “penta” ao Brasil de Scolari, em Yokohama, perante a
Alemanha de Rudi Voller. Só que esse Brasil tinha os “R”, Ronaldo,
Rivaldo e Ronaldinho, e este nem sequer tinha Neymar, afastado do jogo
por uma joelhada nas costas. Se a presença de Neymar, e de Thiago Silva
(castigado) teriam feito a diferença? Quando uma equipa perde por sete, a
resposta tem de ser não. Quando uma equipa é tão superior em todos os
aspectos, não há atenuante para o derrotado. E não há adjectivos que
cheguem para o vencedor.
Quanto durou a resistência do Brasil?
Exactamente 11 minutos, menos um do que Portugal no já longínquo jogo de
Salvador que lançou as bases do desastre luso no torneio. Foi o minuto
em que Thomas Muller apareceu isolado na área brasileira e respondeu da
melhor forma a um canto marcado por Toni Kroos. Avancemos até aos
minutos que decidiram verdadeiramente o jogo, entre os 23’ e os 29’.
Quatro golos para consumar a humilhação. Miroslav Klose, 2-0, 23’ (um
recorde para o avançado de origem polaca, que marcou o seu 16.º golo ao
quarto Mundial, o maior goleador de sempre do torneio), Toni Kroos 3-0,
24’, Toni Kroos, 4-0, 26’, Sami Khedira, 5-0, 29’. A discussão acabou
algures entre o terceiro e o quarto. “Blitzkrieg”, uma expressão
utilizada em contexto de guerra, descreve bem o que a Alemanha fez ao
Brasil nestes minutos.
Se, em 1950, havia um culpado, o
guarda-redes Barbosa que sofreu o golo uruguaio, em 2014 haverá vários.
Se calhar, o primeiro será Zúñiga, o colombiano que atirou Neymar para
fora da Copa. Mas muitos se seguirão, a começar pelo próprio Scolari e
pelas suas opções, mas também por todos os que estiveram em campo: Fred,
o avançado que não marca golos, Fernandinho, o médio que dá bolas ao
adversário, David Luiz e Dante, os centrais que não protegem o
guarda-redes Júlio César.
Depois da guerra-relâmpago, a Alemanha
abrandou e o Brasil acelerou pouco. Neuer, o super guarda-redes alemão,
mostrou que não estava a dormir e defendeu um remate de Paulinho aos 52’
e dois de Óscar aos 53’. Se 5-0 já era humilhação, 6-0 e 7-0 foram
maldade, a colocar o Brasil quase ao nível dos maiores derrotados de
sempre. Schurrle foi o autor da proeza, marcando aos 69’ e 79’. Podiam
ter sido mais e nem o golo de Oscar, sobre os 90’, conseguiu resgatar a
humilhação. Neuer é que ficou chateado por ter sofrido um golo.
O
Brasil não estava preparado nem para a derrota, nem para a humilhação.
Nestas condições, como irá enfrentar o jogo de atribuição do terceiro e
quarto lugares? Essa ridícula consolação inventada para os derrotados...
Quanto à Alemanha, três vezes vencedora do torneio como RFA e nunca
como selecção de um país unificado, já se percebeu desde o primeiro
minuto deste Mundial que está preparada para ser campeã.
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