AUGUSTO CAMPOS | LUANDA: Kumba Yalá, o emblemático homem do gorro vermelho, que morreu hoje em
Bissau, candidatou-se à Presidência da República na Guiné-Bissau em
todas as eleições desde 1994, foi eleito em 2000, mas deposto em 2003,
por um golpe de Estado militar.
O ex-Presidente da Guiné-Bissau morreu hoje devido a doença cardíaca,
disse à agência Lusa fonte próxima do ex-chefe de Estado, que adiantou
que o corpo de Kumba Yalá se encontra em câmara ardente no Hospital
Militar de Bissau.
Kumba Yalá, que fez 61 anos a 15 de março de 2014, renunciou à vida
ativa política a 01 de janeiro deste ano, alegando "haver um tempo para
tudo", e decidiu apoiar o candidato independente às presidenciais, Nuno
Nabian.
O ex- primeiro-ministro da Guiné-Bissau derrubado por um golpe de
Estado em 2003 desistiu assim da corrida às eleições gerais
(presidenciais e legislativas), adiadas por diversas vezes e agora
marcadas para 13 de abril, com 13 candidatos presidenciais e 15 partidos
a concorrer à Assembleia Nacional Popular.
O fundador do Partido da Renovação Social (PRS) recorreu a várias
citações da Bíblia para argumentar que chegara a hora de deixar o seu
lugar a outros, não deixando de parte a ideia de que poderia vir a ser
"senador da república".
Durante o anúncio da sua saída da vida política ativa, de acordo com a
Rádio França Internacional (RFI), Kumba Yala afirmou que partia "com a
consciência tranquila" de quem "sempre lutou para uma vida melhor para
os seus concidadãos".
Kumba Yalá citou o Rei Salomão, que alegara haver tempo para tudo na
vida terrena. A sua decisão de deixar a vida política seria irrevogável.
Filho de agricultores, é natural de Bula, poucos quilómetros a norte de Bissau.
A sua imagem de marca era o barrete vermelho, que trazia sempre nas aparições públicas.
Foi candidato a todas as eleições à Presidência da República desde 1994, ou seja, desde que há pluralismo democrático no país.
Nas eleições de 1994, como líder do Partido da Renovação Social,
desafiou o então chefe de Estado, general João Bernardo "Nino" Vieira,
mas saiu derrotado numa segunda volta renhida.
Chegaria ao poder em 2000, com os analistas da política guineense a
afirmar que os eleitores "estavam cansados do PAIGC (Partido Africano da
Independência da Guiné e Cabo Verde)", o partido histórico que tinha
mergulhado o país numa guerra civil de 11 meses.
Kumba Yalá só ficaria na cadeira presidencial durante três anos, sendo destituído num golpe de Estado militar.
Candidatou-se novamente à Presidência da República nas eleições de
2005, em que foi o terceiro candidato mais votado. Não teve votos
suficientes para disputar a segunda volta, mas foi decisivo com o seu
[partido] PRS para fazer eleger "Nino" Vieira, que disputou a segunda
volta com Malam Bacai Sanhá.
"Nino" não terminou o mandato porque foi assassinado em casa, em
Bissau, em março de 2009, obrigando o país a organizar eleições
presidenciais antecipadas.
Desta vez, na segunda volta contra Malam Bacai Sanhá, Kumba Yalá foi
derrotado nas urnas e exilou-se em Dacar (Senegal) e depois em Rabat
(Marrocos).
Em janeiro de 2012, quando foi anunciada a morte de Malam Bacai
Sanhá, vítima de doença, Kumba Yalá, de etnia balanta, filho de
agricultores de Bula, reaparece em cena e volta a candidatar-se à
presidência.
Juntamente com outros candidatos, queixou-se de fraude eleitoral e a
12 de abril promoveu uma conferência de imprensa para anunciar que não
aceitava participar na segunda volta contra Carlos Gomes Júnior.
Poucas horas depois deu-se o golpe de Estado militar que conduziria ao atual período de transição.
Para trás ficava a sua filiação no PAIGC quando adolescente, a criação do PRS e os comícios que mobilizaram multidões.
Desportista, refugiou-se em Portugal para fugir ao serviço militar
(ainda no tempo colonial). Fez o liceu em Loulé e em Lisboa e, segundo a
sua biografia oficial, licenciou-se em Filosofia e Teologia em 1981.
Formou-se ainda em ciência política em Berlim e, em 1987, chefiou uma
delegação do PAIGC a Moscovo (ao 70.º aniversário da revolução de
outubro).
Ainda segundo a mesma biografia, em 1990 saiu do PAIGC e quatro anos
depois foi eleito deputado já pelo PRS. Em 1995 concluiu a licenciatura
em Direito, em Bissau. Era casado e tem vários filhos.
No meio do seu percurso político, entre as corridas eleitorais,
converteu-se ao islamismo, mas raras foram as vezes em que foi chamado
pelo nome que adotou quando se converteu: Mohamed Yalá.
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