AUGUSTO CAMPOS | LUANDA: Dez dias e muita especulação depois, as investigações ao desaparecimento do Boeing 777 da Malaysia Airlines concentram-se nos dois homens que, na madrugada de dia 8, iam aos comandos do avião, cujo rasto é procurado num raio de mais de cinco mil quilómetros desde a sua última localização conhecida. A companhia aérea diz que foi o co-piloto quem fez a derradeira comunicação com terra – um informal “muito bem, boa noite” –, embora não haja certezas se o registo foi feito antes ou depois de ter sido desligado um dos principais sistemas de comunicação do aparelho.
“As informações iniciais indicam que foi o co-piloto
quem falou na última conversa gravada”, disse o presidente executivo da
companhia aérea da Malásia, Ahmad Jauhari. Fontes citadas pela Reuters
dizem que, em circunstâncias normais, é o piloto que não está aos
comandos da aeronave quem se ocupa das comunicações radio.
Segundo
o responsável, a comunicação aconteceu à 1h19 da madrugada de dia 8,
quando o avião viajava ainda na rota prevista, a nordeste da costa
malaia. Três minutos depois, o Boeing deixou de aparecer nos radares da
Malásia e do Vietname, em cujo espaço aéreo estava prestes a entrar – o
que indiciava que se tinha despenhado ou, hipótese agora tida como
provável, que alguém a bordo desligara o transponder, sistema que identifica os aviões e fornece dados do voo às torres de controlo.
O
aparelho foi oficialmente dado como desaparecido minutos depois, quando
não efectuou o contacto esperado com a torre de controlo de Ho Chi Min.
Mais tarde, um radar militar da Malásia detectou a passagem de um
aparelho pela costa noroeste do país, voando em direcção ao estreito de
Malaca, o que leva os investigadores a acreditar que o voo da Malaysia
Airlines mudou de rota depois da última comunicação, virando em direcção
a oeste.
Responsáveis da Malásia adiantaram que o ACARS – outro dos sistemas
vitais de comunicação, que envia para os centros de manutenção dados
sobre o estado do avião – foi desligado antes da última comunicação via
rádio o que, segundo peritos em aviação, só pode ser feito por alguém
com conhecimentos de aeronáutica. Mas Jauhari diz não ser possível
apurar “o momento exacto em que o ACARS foi desligado”. O responsável
explicou que a última transmissão deste sistema ocorreu à 1h07, quando o
avião concluiu a trajectória ascendente, e só deveria voltar a enviar
dados 30 minutos depois, o que não chegou a acontecer.
Apesar de
inactivo, o sistema continuou a emitir sinais que foram detectados por
um satélite geoestacionário que orbita sobre o oceano Índico, adianta o
jornal Guardian. Estes dados sugerem que o avião terá voado
seis horas e meia ao longo de um de dois prováveis corredores aéreos: um
estendendo-se para noroeste, do Laos ao mar Cáspio; o outro para
sudoeste, em direcção a sudoeste, da costa ocidental da ilha indonésia
de Sumatra em direcção ao sul do Índico.
“Posso confirmar que as
operações de busca e as operações nos corredores Norte e Sul já
começaram”, revelou o ministro dos Transportes da Malásia, Hishammuddin
Hussein. Uma operação que envolve 26 países – entre os que participam
nas buscas e os que se situam nos dois vectores prováveis – e que,
segundo o Wall Street Journal, se estende por um raio de 3200 milhas (5150 km) a partir da última localização conhecida do voo MH370.
Dada
a enormidade de uma tarefa nunca antes tentada, a Malásia pediu à
Austrália que assuma o comando das buscas na zona sul anunciou o
primeiro-ministro Tony Abbott, revelando que o país vai disponibilizar
mais meios de vigilância aérea, que se somam aos três P-3C Orion já
mobilizados. Os EUA têm já também a caminho de Perth, no oeste da
Austrália, um avião de patrulha P-8 Poseidon.
Suspeitas por confirmar
Vários
países asseguram que os seus radares não detectaram qualquer passagem
estranha pelo seu território – o Cazaquistão foi o último a fazê-lo,
depois da Índia, Paquistão, Tailândia, Indonésia e Birmânia. Mas
investigadores citados por um jornal malaio admitiram a possibilidade de
o aparelho ter voado abaixo dos 5000 pés (1500 metros) para escapar aos
controlos, algo que só seria possível a alguém muito experiente na
pilotagem de aviões comerciais.