AUGUSTO CAMPOS | LUANDA: O manuscrito português, que terá sido feito entre 1580 e 1620, mostra aquilo que parece ser um pequeno canguru numa das suas letras. Se for mesmo uma representação com 400 anos deste mamífero marsupial, o desenho sugere, escreve o diário britânico The Telegraph, que os exploradores portugueses chegaram à Austrália antes de Willem Janszoon, o navegador holandês a quem se atribui a descoberta, em 1606.
O documento, que foi comprado recentemente pela
galeria Les Enluminures, de Nova Iorque, que o avalia em 11 mil euros, a
um negociante de livros antigos em Portugal, é um volume de orações, em
tamanho de bolso, que pertencia a uma freira e inclui, na página em que
o canguru aparece, a partitura de uma procissão litúrgica. Esta
religiosa chamava-se, muito provavelmente, Catarina de Carvalho e vivia
num convento nas Caldas da Rainha.
Para Laura Light, investigadora
da galeria, não há dúvidas da importância desta representação no que
toca à reescrita da história. “O canguru num manuscrito tão antigo prova
que o seu autor ou esteve na Austrália ou, ainda mais interessante, que
relatos de viajantes e desenhos dos curiosos animais que podiam
encontra-se neste novo mundo estavam já disponíveis em Portugal”, disse
ao australiano The Age.
Martin Woods, citado pelo mesmo jornal, é bem menos entusiasta. Para o conservador de mapas da biblioteca nacional australiana “pode tratar-se de outro animal do sudeste asiático, de uma das diversas espécies de veados que se apoiam nas patas traseiras para se alimentarem em ramos mais altos”. O desenho por si só não chega, diz, para reescrever a história. “Se estamos a desenhar um canguru uma das primeiras coisas que fazemos é a cauda”, que a ilustração em causa não tem, lembra ao diário britânico The Guardian. É claro que, sendo desenhado dentro de um “D” se pode argumentar que a cauda está escondida, reconhece Woods, acrescentando, no entanto, que seria natural que estivesse entrelaçada na letra.
“Creio que tudo isto é muito entusiasmante para quem já acredita que foram os portugueses a descobrir a Austrália mas, para quem não acredita nisso, este manuscrito não é assim tão estimulante”, conclui o especialista em mapas.
Outros investigadores, escreve o Telegraph, defendem que o manuscrito pode ter sido feito logo após a descoberta de Janszoon ou ser produto de uma viagem portuguesa à Papua Nova Guiné. Entre eles está John Gascoigne, membro da Academia Australiana de Humanidades, para quem será preciso muito mais do que um desenho num livro de orações para provar que foram os portugueses os primeiros a chegar. A tarefa é difícil, salienta ao Age, porque neste período a coroa de Lisboa era extremamente sigilosa em relação às suas rotas marítimas – pormenor que Laura Light, da galeria nova-iorquina também sublinha, mas para sustentar a tese contrária – e porque muitos dos documentos que poderiam estar relacionados com esta descoberta terão sido destruídos no terramoto de 1755.
Além disso, diz Gascoigne , “o intervalo possível de criação do documento vai até 1620, o que acomoda a data da chegada de Willem Janszoon e do seu Duyfken ao norte da Austrália”. Também ele acredita que o desenho pode ter decorrido da viagem à Papua, em 1526.
Ainda que a descoberta holandesa esteja registada como a oficial, há já anos que os historiadores levantam a possibilidade de outros navegadores da Europa ocidental terem aportado à Austrália muito antes, com base em documentos variados, incluindo cartografia.
Lembra Light que algumas das “provas” mais recorrentes são precisamente mapas da década de 40 do século XVI, oferecidos ao rei Henrique VIII de Inglaterra, que mostram uma grande massa de terra abaixo da Indonésia e da Papua Nova Guiné.
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Martin Woods, citado pelo mesmo jornal, é bem menos entusiasta. Para o conservador de mapas da biblioteca nacional australiana “pode tratar-se de outro animal do sudeste asiático, de uma das diversas espécies de veados que se apoiam nas patas traseiras para se alimentarem em ramos mais altos”. O desenho por si só não chega, diz, para reescrever a história. “Se estamos a desenhar um canguru uma das primeiras coisas que fazemos é a cauda”, que a ilustração em causa não tem, lembra ao diário britânico The Guardian. É claro que, sendo desenhado dentro de um “D” se pode argumentar que a cauda está escondida, reconhece Woods, acrescentando, no entanto, que seria natural que estivesse entrelaçada na letra.
“Creio que tudo isto é muito entusiasmante para quem já acredita que foram os portugueses a descobrir a Austrália mas, para quem não acredita nisso, este manuscrito não é assim tão estimulante”, conclui o especialista em mapas.
Outros investigadores, escreve o Telegraph, defendem que o manuscrito pode ter sido feito logo após a descoberta de Janszoon ou ser produto de uma viagem portuguesa à Papua Nova Guiné. Entre eles está John Gascoigne, membro da Academia Australiana de Humanidades, para quem será preciso muito mais do que um desenho num livro de orações para provar que foram os portugueses os primeiros a chegar. A tarefa é difícil, salienta ao Age, porque neste período a coroa de Lisboa era extremamente sigilosa em relação às suas rotas marítimas – pormenor que Laura Light, da galeria nova-iorquina também sublinha, mas para sustentar a tese contrária – e porque muitos dos documentos que poderiam estar relacionados com esta descoberta terão sido destruídos no terramoto de 1755.
Além disso, diz Gascoigne , “o intervalo possível de criação do documento vai até 1620, o que acomoda a data da chegada de Willem Janszoon e do seu Duyfken ao norte da Austrália”. Também ele acredita que o desenho pode ter decorrido da viagem à Papua, em 1526.
Ainda que a descoberta holandesa esteja registada como a oficial, há já anos que os historiadores levantam a possibilidade de outros navegadores da Europa ocidental terem aportado à Austrália muito antes, com base em documentos variados, incluindo cartografia.
Lembra Light que algumas das “provas” mais recorrentes são precisamente mapas da década de 40 do século XVI, oferecidos ao rei Henrique VIII de Inglaterra, que mostram uma grande massa de terra abaixo da Indonésia e da Papua Nova Guiné.